Novo diagnóstico para hantavirose

Ratos silvestres são hospedeiros do hantavírus

A Síndrome Pulmonar Cardiovascular por Hantavírus (SPCH), doença rara e letal caracterizada por insuficiência respiratória aguda, terá em breve seu diagnóstico rápido facilitado no país, graças a pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP). O Centro de Pesquisa em Virologia da faculdade desenvolveu novos antígenos para esse diagnóstico. “Antes, a detecção da doença dependia de tecnologia norte-americana ou argentina. Importávamos antígenos para hantavírus que não eram tão específicos para o vírus brasileiro”, afirma o médico e coordenador do estudo Luiz Tadeu Moraes Figueiredo.
 
Para obter o antígeno, os pesquisadores, após extrair o RNA do hantavírus do sangue de pacientes com a SPCH, usam a tecnologia de DNA recombinante para isolar e amplificar o gene que codifica a proteína N. Esse gene é então inserido em um plasmídio, cromossomo acessório que se reproduz de modo independente, e este é usado para infectar bactérias Escherichia coli que, ‘enganadas’ pela presença do novo gene, passam a produzir essa proteína. “Essas bactérias são destruídas e a proteína N é purificada diretamente do material — uma resina especial captura essa proteína por uma espécie de ‘cauda’ composta por seis moléculas de histidina. Retirada da resina, a proteína do hantavírus fica pronta para utilização, como antígeno, nos testes sorológicos que permitem detectar essa doença de modo mais rápido e preciso.”, define Figueiredo.
 
As pessoas afetadas pela doença, que já teve 450 casos registrados no país, sentem febre, dores no corpo e falta de ar. A insuficiência respiratória aumenta progressivamente, reduzindo as forças da vítima. A SPCH apresenta ainda sintomas que podem ser constatados com exames de sangue e raios X dos pulmões: os pacientes exibem pneumonia aguda (com os dois pulmões cheios de líquido) e maior concentração de hemácias e leucócitos no sangue, além de redução das plaquetas. O tratamento deve ser iniciado com urgência, em unidade de terapia intensiva. Atualmente, diz Figueiredo, “50% dos pacientes morrem”.
 

Espectrometria do hantavírus

Na UTI, os doentes mais graves devem ser entubados e ligados a aparelhos ventiladores para respirarem melhor, e a função cardíaca também deve ser estimulada com medicamentos, mas a aplicação de soro, segundo o pesquisador, “deve ser feita com todo o cuidado, já que o aumento no volume de líquidos no pulmão, típico da SPCH, pode ser agravado se ele receber soro em excesso”. Os profissionais que atuam em terapia intensiva vêm sendo alertados para tais casos. A rápida descoberta  da doença é muito importante para a eficácia do tratamento. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de evitar um quadro grave. Essa é a grande vantagem do surgimento de novos antígenos para a detecção da doença, produzidos no país e com os tipos virais encontrados aqui.

O vírus tem como hospedeiros ratos silvestres, que freqüentam locais como galpões, galinheiros, estrebarias e as casas dos moradores de fazendas, e pode ser transmitido ao homem pela urina ou fezes desses roedores (inclusive quando estas tornam-se poeira). “Por isso, deve-se arejar esses locais e lavar bem, usando água sanitária, em vez de apenas varrer, o que faz levantar a poeira contendo o vírus”, completa. Os antígenos criados em Ribeirão Preto estão sendo patenteados e produzidos em larga escala para serem distribuídos aos laboratórios de saúde pública.

Ricardo Diaz
Especial para Ciência Hoje/RJ

 

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