O clima e a alimentação podem interferir nas características da população de diferentes regiões? Por que, em alguns lugares, como Sul e Nordeste, há diferenças mais marcantes do que em outros?

Como todos os seres vivos, os humanos também são influenciados pelo ambiente à sua volta. Dessa forma, fatores como a qualidade dos alimentos e sua disponibilidade, condições de moradia, saneamento, acesso a tratamentos de saúde, tipos de doenças presentes no ambiente, situação geográfica e padrões de atividade física interferem em nossas características biológicas, como a estatura, níveis de gordura corporal, idade da menarca (primeira menstruação), pressão arterial e padrões de desgaste físico.

Além disso, fatores genéticos influenciam nossa aparência, como a cor dos olhos, dos cabelos (sem tratamento para coloração) e da pele, a robustez física e traços do crânio e da face. No Brasil, as enormes diferenças socioeconômicas entre as regiões têm um profundo impacto sobre aspectos como crescimento e aparência física dos indivíduos.

 
Mas a cultura humana é o nosso principal mecanismo de adaptação e através dela – por exemplo, do uso de roupas e abrigos apropriados para o frio dos pólos ou o calor dos desertos, do desenvolvimento de instrumentos cada vez mais eficientes para caça, pesca e cultivo da terra, da construção de barcos e aviões, da invenção de próteses como óculos, aparelhos auditivos e restaurações dentárias e de medicamentos para muitas doenças etc. – temos sido capazes de reduzir significativamente as influências do ambiente sobre nossos corpos, diminuindo, assim, os efeitos da seleção natural.

Além disso, a cultura nos tem permitido migrar e ocupar praticamente todos os continentes do planeta, o que muito contribuiu para a diversidade étnica encontrada hoje. No Brasil em particular, essa diversidade é enorme em função das muitas ondas migratórias que aqui chegaram: primeiro, os nativos americanos (‘índios’), há cerca de 12 mil anos; depois, os portugueses, no século 16; os africanos, no século 17; e, no século 20, os alemães, italianos, poloneses, espanhóis, japoneses, chineses, entre outros que vieram substituir a mão-de-obra escrava e se instalaram em diversos pontos do país.

 
As populações brasileiras hoje refletem as migrações e casamentos dos imigrantes dentro do país. Por isso, há mais pessoas de pele e cabelos claros no Sul – para onde migraram alemães e italianos –, maior concentração de pessoas com características físicas indígenas no Norte – onde ainda hoje é grande o contingente desses povos – e maior diversidade de tipos físicos no Nordeste e no Sudeste – para onde povos de muitas ancestralidades convergiram, se encontraram e se reproduziram.
 
No entanto, se olharmos mais de perto, com um olhar antropológico, veremos que há muito mais diferenças dentro das regiões do país do que entre elas. É impossível dizer com certeza de que região vem um(a) brasileiro(a) apenas olhando para a pessoa. Por exemplo, não há como identificar um formato de crânio característico dos nordestinos ou dos sulistas, ou qualquer traço físico que distinga indiscutivelmente um paulista de um goiano ou de um rondoniense.
 

Por outro lado, é importante lembrar que as aparências externas (fenótipo) são coordenadas por poucos genes e demonstram simplesmente a nossa enorme capacidade de nos adaptarmos ao ambiente. Hoje, já está claro para os cientistas que somos uma espécie bastante politípica (com diversas formas), mas ao mesmo tempo muito homogênea geneticamente, o que significa que, passadas as diferenças superficiais – literalmente –, somos todos iguais e temos as mesmas capacidades.

Hilton P. Silva
Museu Nacional,
Universidade Federal do Rio de Janeiro

 

 

 

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