O corredor ecológico permitirá o aumento das populações de onças-pintadas recém-descobertas na caatinga (imagens: arquivo Cenap).

Conectar várias unidades de conservação no Piauí e na Bahia de maneira a permitir que a recém-descoberta população de onças-pintadas (Panthera onca) da caatinga possa aumentar e manter sua saúde genética. Esse é o objetivo do corredor ecológico que o Ministério do Meio Ambiente pretende implantar, por meio das ações do Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação de Predadores Naturais (Cenap), na região que vai do lago de Sobradinho até a Chapada Diamantina, ambos na Bahia.

Para tanto, será realizado um censo da população felina a fim de identificar seu tamanho, padrão de alimentação e rota de deslocamento. Além disso, o Cenap – que integra o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão nascido de uma divisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – está investindo em campanhas de conscientização e amenização de conflitos para diminuir a caça desses animais e suas presas.

Até 2006 acreditava-se que não havia onças-pintadas nesse setor da caatinga (região do submédio São Francisco) porque os ambientes ali não teriam capacidade de manter animais do porte desses felinos. No entanto, pesquisadores do Ibama, trabalhando naquele ano no Programa de Revitalização do Rio São Francisco, fizeram a descoberta. “Ao contrário do que se pensa, a caatinga é rica em fauna”, revela o biólogo Rogério Cunha de Paula, co-coordenador do projeto Onças da Caatinga e do Programa de Controle de Conflitos com Predadores, e chefe-substituto do Cenap.

Ao descobrirem a população de onças na região entre os municípios de Sobradinho e Sento Sé, os cientistas concentraram suas pesquisas no local, que se situa entre várias áreas que são unidades de conservação (como os parques nacionais das serras da Capivara e das Confusões) ou que podem vir a ser (como o Boqueirão da Onça).

Segundo De Paula, como a região é muito pobre, as onças acabam competindo com os moradores pelos escassos recursos alimentares. Quando isso acontece, há conflitos que levam à perseguição e ao abate dos felinos. A criação de um parque nacional protegeria os animais, mas tornaria a vida das pessoas mais difícil. Por isso, propôs-se que diferentes áreas fossem protegidas de maneira distintas, não apenas como parques nacionais.

“A criação do corredor pareceu a melhor solução, pois é uma unidade de conservação menos restritiva, que não requer desapropriações, uma vez que o terreno continua no domínio privado”, diz o chefe-substituto do Cenap. Mesmo assim, ressalta ele, deverá haver interferência nas atividades econômicas devido a limitações no uso do solo. ”Mas como a densidade populacional nessas áreas (que deverão tornar-se parque nacional) é de menos de um habitante por km 2 , o impacto socioeconômico não deve ser alto.”

Encontro de populações

O corredor ligará várias unidades de conservação da Bahia e do Piauí (clique no mapa para ampliá-lo).

O corredor abarcará uma área de 2 milhões de hectares (1 hectare [ha] equivale a 10 mil m 2 ), permitindo o encontro das populações de onças dos parques nacionais e da caatinga não protegida. ”Embora chamemos de corredor, não se espera que os animais atravessem toda a região e sim que possam procriar com animais próximos, cujos filhotes migrariam e cruzariam com outros espécimes e assim por diante, permitindo a troca de material genético”, explica o biólogo.

Mas, para isso, é preciso ter várias informações sobre os felinos da região, como o número de indivíduos em cada área e seu potencial de deslocamento. Até o momento, a única estimativa sobre a densidade populacional dos animais é da organização não governamental Fundação para Conservação da Onça-Pintada, que acredita haver um felino por 26 km 2 no Parque Nacional da Serra da Capivara. Para De Paula, entretanto, o número não é o mesmo para a caatinga como um todo, dada a escassez de recursos e outros impactos.

A portaria que estabeleceu o grupo de trabalho para elaborar a proposta de criação e implementação do corredor foi publicada em 23 de abril de 2007, quando houve a divisão do Ibama e a criação do ICMBio. Por conta disso, as atividades ainda não começaram. “A previsão é de termos o corredor em 2009, mas nada é garantido. Também aguardamos o decreto de criação do Parque Nacional do Boqueirão da Onça, que trará muitos benefícios para a conservação dessas populações extremamente ameaçadas do maior carnívoro das Américas”, finaliza De Paula. 

Fred Furtado
Ciência Hoje/RJ 

 

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