Uma amostra de gasolina é analisada, na Unicamp, pelo bioquímico Roberto Haddad (foto: Antoninho Perri).
Uma nova e rápida metodologia de análise da qualidade da gasolina foi desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O processo é capaz de detectar em poucos minutos a presença de solventes no combustível. Esses invasores promovem a corrosão de peças do motor de automóveis e produzem gases nocivos à saúde a partir do processo de queima da gasolina.
 
O novo método é composto por duas etapas. Primeiramente, é feito um simples teste que pode ser realizado a pedido do cliente em qualquer posto de abastecimento. Uma amostra da gasolina é misturada à água e, após a separação do líquido em fases – gasolina de um lado e água e álcool de outro –, observa-se o teor alcoólico do combustível, que não pode ultrapassar 25%.
 
Se a amostra passar nesse teste, a fase composta por água e álcool servirá como base para a outra etapa da análise, a busca dos solventes. Aproximadamente 20 microlitros dessa mistura são injetados em um equipamento que mede a massa de compostos, o espectrômetro de massa. A partir dessa análise, são obtidos gráficos (ou espectros de massas) que revelam a presença de compostos polares da amostra. Estes funcionam como identidades naturais e estão presentes tanto na gasolina como nos solventes. O estudo desses compostos permite identificar as substâncias irregulares.
 
Em A, o espectro de massas dos compostos presentes na gasolina de qualidade; em B, o dos compostos do combustível adulterado. A grande quantidade de substâncias diferentes (linhas vermelhas) em B indica os compostos polares característicos dos solventes.

Segundo o bioquímico Renato Haddad, do Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas, da Unicamp, a rapidez da análise permitiria a realização de testes em 170 postos por dia. Mas isso só seria possível com a utilização de dois veículos adaptados para as análises químicas. Por enquanto, os testes estão sendo feitos no laboratório.

 
Haddad diz que o novo método, em estudo desde 2004, pode otimizar o vagaroso, porém mais completo, teste da Agência Nacional do Petróleo (ANP): “Um funcionário da ANP, com conhecimento dessa nova tecnologia, poderia fazer um ‘pente-fino’ nos postos de gasolina, enviando para análise laboratorial apenas amostras suspeitas de adulteração e diminuindo o prazo de entrega de resultados”, explica o bioquímico. O atual método submete as amostras a análises laboratoriais físico-químicas mais específicas, mas leva até 15 dias para oferecer os laudos finais.
 
Adulterações em baixa
Os dados da ANP mostram uma queda no índice de não-conformidades na gasolina. Em 2004, foram analisadas 90.236 amostras em postos do Brasil, das quais 4.434 estavam adulteradas (4,9 %). Já neste ano, das 46.656 amostras examinadas até julho, apenas 1.772 (3,8%) acusaram irregularidades. O relatório da ANP indica ainda que os estados com maiores proporções de adulterações são Rio de Janeiro (7,1%) e São Paulo (6,5%).
 
Haddad credita a queda no número de adulterações ao aumento da fiscalização por parte da ANP, mas revela que já foram descobertas maneiras de burlar as análises laboratoriais. Segundo ele, o método da ANP não revela adulterações quando o solvente adicionado à gasolina é falsificado ou contrabandeado de outros países. Isso ocorre porque o método depende da adição de marcadores químicos artificiais nos solventes produzidos por refinarias do Brasil para identificá-los posteriormente no laboratório. O problema é que os solventes falsificados, assim como os contrabandeados, não recebem esses marcadores e, portanto, podem ser adicionados à gasolina sem serem notados nos testes laboratoriais.
 
O pesquisador diz que, nesse ponto, o processo de análise desenvolvido pela Unicamp supera o da ANP. Segundo ele, por trabalhar com a detecção de compostos polares, é possível checar se há adulterações, seja qual for a origem do solvente.
 
A patente do novo método já foi escrita e protocolada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em maio deste ano. No momento, os químicos da Unicamp se preparam para fechar um acordo com uma grande distribuidora de combustíveis para a realização de testes de qualidade da gasolina.

Júlio Molica
Ciência Hoje/RJ

 

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