Plantando lagartas, colhendo goiabas

Um estudo sobre o controle biológico do gorgulho-da-goiaba ( Conotrachelus psidii Marshall), feito por pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), foi testado na prática por produtores de goiaba da cidade de Cachoeiras de Macacu (RJ), segunda maior produtora da fruta para consumo in natura no Brasil. Em algumas plantações, houve diminuição de 30% a 80% no número de goiabas atacadas.
 
O gorgulho, um pequeno besouro que chegava a destruir 90% dos frutos das plantações da cidade, é uma praga que ataca a goiaba ainda verde. Na superfície do fruto, a fêmea do inseto cava canais onde deposita seus ovos. Estes se transformam em larvas que se alimentam da polpa e das sementes. Quando o fruto amadurece e cai, severamente danificado, as larvas chegam ao solo e, após três ou quatro meses, se transformam em besouros adultos, reiniciando o ciclo.
 

Larva do gorgulho-da-goiaba sendo atacada por nematóides (foto: Cláudia Dolinski)

Para combater o gorgulho, os pesquisadores da Uenf utilizam vermes microscópios, os nematóides, que, em laboratório, penetram em lagartas conhecidas como traças-dos-favos ( Galleria mellonella) , onde se reproduzem e provocam a morte do animal. As lagartas mortas são enterradas sob as goiabeiras e cada uma libera de 50 a 100 mil vermes. Em busca de outro hospedeiro, os nematóides, então, atacam as larvas do gorgulho-da-goiaba.

 
Segundo a engenharia agrônoma Cláudia Dolinski, do Grupo de Nematologia da Uenf, a aceitação do novo método de controle da praga pelos produtores de goiaba foi surpreendente. “No momento, 20 agricultores estão envolvidos e há projetos de expansão”, diz Dolinski. Uma das explicações para o grande interesse, a seu ver, é o fato de o método não envolver produtos químicos. “Os métodos tradicionais nunca eliminam as larvas totalmente, apenas reduzem sua população.”
 
Os resultados do controle biológico foram variados. Em algumas plantações, houve diminuição de 30% a 80% no número de goiabas infectadas, enquanto em outras as ocorrências permaneceram constantes. Para a pesquisadora, os resultados só não foram melhores devido a alguns problemas técnicos em certas áreas, os quais já foram corrigidos. “Esperamos melhorar a eficácia do método na próxima safra.”
 

O projeto não gerou resultados só nos pomares. Após o início da pesquisa, os produtores, todos de pequenas propriedades, se organizaram em uma associação (Goiacam) e já pensam em criar um selo indicador do não uso de agrotóxicos para a goiaba de Cachoeiras de Macacu. No momento, eles negociam a venda dos frutos in natura para as escolas públicas da cidade.

Redação

 

Outros conteúdos desta edição

Outros conteúdos nesta categoria

614_256 att-22975
614_256 att-22985
614_256 att-22993
614_256 att-22995
614_256 att-22987
614_256 att-22991
614_256 att-22989
614_256 att-22999
614_256 att-22983
614_256 att-22997
614_256 att-22963
614_256 att-22937
614_256 att-22931
614_256 att-22965
614_256 att-23039