A banalização das armas nucleares

Cogumelo atômico decorrente da explosão da bomba nuclear lançada sobre a cidade japonesa de Nagasaki em 9 de agosto de 1945.

Com o domínio de tecnologias nucleares por um número cada vez maior de países e o aumento de tensões em regiões com conflitos, reaparecem os questionamentos sobre a proibição do uso de armas atômicas adotada no final da Guerra Fria (marcada pela queda do muro de Berlim, em 1989). Um caso emblemático foi recentemente divulgado: a existência de uma declaração conjunta de um grupo de ex-chefes militares ocidentais, defendendo o uso de armas nucleares em teatros de guerras convencionais.

Não se conhece o impacto dessa declaração nos ciclos oficiais, mas foi noticiado que a proposta seria submetida ao Pentágono, em Washington, e ao secretário geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A declaração proporia o emprego dessas armas como estratégia para intervenção em conflitos armados em um “mundo brutal”.

A estratégia de utilização de armas nucleares táticas não é nova. No início da Guerra Fria, logo após o final da Segunda Guerra, quando o arsenal nuclear ainda era privilégio norte-americano, a possibilidade de seu emprego era estratégia de defesa das nações da Otan contra o poderio militar soviético na Europa. Deve-se ressaltar que o advento do arsenal nuclear soviético, em 1949, induziu os projetos nucleares militares autônomos da Inglaterra (1952) e da França (1960), os quais foram implementados a despeito da existência da Otan.

Os desenvolvimentos tecnológicos atuais mostram que a possibilidade de utilização de armas nucleares por nações envolvidas em conflitos regionais também cresce. Assim, além da proposta dos ex-chefes militares mencionada acima, existiria a possibilidade de conflitos nucleares regionais. A inexistência atual de uma ordem política mundial reforça ainda mais essa tendência de banalização das armas nucleares. 

Nos últimos anos, surgiu também a ameaça das chamadas ‘bombas sujas’, preparadas com explosivo químico convencional e material radioativo disponível. O objetivo é dispersar o material radioativo, que é, em geral, retirado do combustível ‘queimado’ em reatores nucleares. Entre todos os artefatos nucleares, a bomba suja é o único que não necessita de instalações de porte industrial para sua fabricação.

Um dos fatores contra a difusão em nível global da energia nuclear como energia limpa alternativa seria a disponibilidade crescente de material radioativo no mercado negro internacional. Essa possibilidade é reconhecida pela própria Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A disseminação dessa fonte de energia alternativa requereria o controle e a segurança de numerosas instalações nucleares, em um nível bem acima das atuais disponibilidades técnicas e de recursos humanos dessa organização.

Arsenal e vizinhança
Com a exceção do Brasil, único país da da América do Sul com um programa avançado de tecnologia nuclear, os países selecionados neste ensaio pertencem a um dos seguintes grupos: i) países que têm arsenais nucleares; ii) países com programa nuclear em função de vizinhos dotados de arsenal nuclear.

Dados históricos sobre os programas nucleares de Israel, do Irã, da Coréia do Norte, do Iraque e do Brasil são apresentados, resumidamente, a seguir e analisados quanto: i) às motivações para o desenvolvimento de tecnologia nuclear; ii) às perspectivas para um projeto nuclear militar de estado; iii) ao desenvolvimento de foguetes; iv) à postura em relação aos tratados internacionais para a inspeção de instalações nucleares.

Fernando de Souza-Barros
Instituto de Física,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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