Com 1 milhão de toneladas produzidas anualmente, Santa Catarina é o segundo estado que mais produz arroz no Brasil, atrás apenas do Rio Grande do Sul. Os 8 mil agricultores responsáveis pelo plantio têm agora um incentivo a mais para aumentar essa produção: três novas variedades do cereal, lançadas recentemente por pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Todas essas variedades foram desenvolvidas com técnicas de melhoramento genético.
Uma delas, chamada SCS118 Marques, é semelhante ao arroz branco polido. Como já é conhecido pelo consumidor, volta-se para o mercado tradicional (ver ‘Tipos de arroz’). “Os agricultores é que vão notar a diferença, sobretudo na produtividade do grão”, diz o engenheiro agrônomo Rubens Marschalek, que coordenou os trabalhos.
A novidade para o mercado está nos tipos especiais de arroz SCS119 Rubi (arroz vermelho) e SCS120 Ônix (arroz preto). A coloração diferenciada da película que reveste o grão integral é responsável pelo alto valor nutricional dos grãos. Ambos são ricos em antocianina e outros compostos fenólicos, que combatem o envelhecimento e a degeneração celular em seres humanos. Essas variedades, segundo Marschalek, devem fazer parte de nichos específicos de mercado e se destinar sobretudo à dieta macrobiótica – baseada em cereais, frutas e legumes. Por isso, deverão ser consumidas de forma integral (não polidas).
Cada variedade foi desenvolvida a partir de um método específico. A branca foi obtida por mutação genética induzida por raios gama, enquanto a vermelha, por seleção de linhagens puras. Já a preta foi obtida pelo processo de hibridização, a partir do cruzamento de uma variedade de arroz branco com a linhagem Riso Nero, proveniente da Itália. Todas devem ser cultivadas pelo sistema ‘irrigado’, em que a cultura é mantida alagada todo o tempo (o grão também é produzido apenas com irrigação periódica, em terras secas, sistema conhecido como ‘sequeiro’).
Competitividade
As variedades foram desenvolvidas para aumentar a competitividade da cultura de arroz catarinense. “A agricultura desse cereal em Santa Catarina está baseada, principalmente, na lavoura de pequenos produtores”, diz o engenheiro agrônomo. “Para sobreviver, o cultivo familiar precisa de alta qualidade e de boa produtividade, além de opções para nichos de mercado.”
O melhoramento genético dessas variedades levou 13 anos para ser concluído. A variedade Marques deve começar a ser produzida ainda este ano e chegar aos supermercados no início do ano que vem. A Rubi e a Ônix deverão estar disponíveis ao consumidor no segundo semestre de 2014.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil é o nono maior produtor de arroz do mundo e o primeiro fora do continente asiático, colhendo cerca de 12 milhões de toneladas por ano. Cerca de 70% da produção de Santa Catarina é exportada para São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e estados do Nordeste.
A gramínea que alimenta mais da metade da população mundial é classificada em três categorias, segundo os tratamentos que recebe antes da comercialização:
Branco: passa pela remoção da casca, seguida de polimento do grão. Com isso, o arroz perde proteínas, mas continua rico em carboidratos. É o mais consumido.
Integral: grão in natura, sem qualquer tratamento químico ou físico. O arroz integral conserva proteínas, sais minerais (como fósforo, ferro e cálcio), vitaminas e fibras. O valor calórico é semelhante ao do tipo branco.
Parboilizado: meio termo entre o branco e o integral. O grão é encharcado em água e aquecido. Assim, vitaminas e sais minerais passam das camadas externas para a parte interna. Não é tão rico em proteínas quanto o integral, mas o valor nutricional supera o do branco.
Marina Sequinel
Especial para Ciência Hoje/ PR
Texto originalmente publicado na CH 304 (junho de 2013).