Os cavalos-marinhos (Hippocampus reidi) que habitam o manguezal de Maracaípe, no município de Ipojuca (PE), são a grande atração dos passeios de jangadas, mas toda essa atenção acabou tendo um efeito negativo: o número de indivíduos desse animal caiu 80%.

Os dados são do projeto Hippocampus, iniciativa do Laboratório de Aquicultura Marinha (Labaquac), em conjunto com a Petrobras, para recuperar a população de cavalos-marinhos e criar alternativas para os jangadeiros da região manterem sua renda.

O número de cavalos-marinhos no manguezal de Maracaípe caiu 80%

O Labaquac foi criado em 1995 em Porto Alegre (RS) pela bióloga Rosana Beatriz Silveira, que na época iniciava seu mestrado em Biologia Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

“Mesmo antes da graduação, já tinha interesse por cavalos-marinhos e como não havia muitos pesquisadores nessa área, resolvi fundar meu próprio laboratório para estudar esses animais”, conta Silveira, que revela que os cavalos-marinhos entraram para a lista de espécies ameaçadas de extinção em 1996.

Em 1998, ela foi convidada pela prefeitura de Ipojuca para trabalhar no santuário de cavalos-marinhos de Maracaípe, pois a secretaria municipal de Meio Ambiente já havia detectado o problema com a população do manguezal.

Nos três anos seguintes, o Labaquac trabalhou em conjunto com o órgão, até que Silveira concluiu seu doutorado em dinâmica populacional com os cavalos-marinhos daquele estuário, no município pernambucano.

Silveira diz que o trabalho revelou dados inéditos sobre a biologia do H. reidi e que essas informações auxiliaram a composição do plano de manejo nacional que será implementado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no final de 2010.

Jangadeiro de Maracaípe
O projeto de proteção de cavalos-marinhos de Maracaípe inclui a conscientização dos jangadeiros da região (foto: Heraldo Carvalho).

Capacitação e recuperação

Para minimizar o impacto dos passeios turísticos sobre a população de cavalos-marinhos – o principal atrativo do programa –, os pesquisadores do Labaquac realizaram vários treinamentos com os jangadeiros. “Para aumentar o número de turistas, eles criaram o lema ‘não viu, não paga’. Obviamente, os jangadeiros faziam de tudo para encontrar os animais”, explica a bióloga.

As capacitações não só conscientizaram os jangadeiros como propuseram alternativas para que eles pudessem manter a renda obtida com os passeios.

Em vez de tentar encontrar cavalos-marinhos, os jangadeiros passaram a oferecer o “passeio das belezas do manguezal”

“Propusemos que, em vez de tentar encontrar os cavalos-marinhos no manguezal, eles oferecessem aos turistas o ‘passeio das belezas do manguezal’, onde poderiam ver esses peixes entre outros atrativos da fauna e flora local, retirando assim, o cavalo-marinho de foco e diminuindo a pressão sobre os animais”, relata Silveira.

Há o projeto de transferir a sede do laboratório para Maracaípe, mas ainda não há verba para tal. “Estamos também tentando criar maneiras para que as mulheres dos jangadeiros tenham uma fonte de renda e já neste mês começaremos um projeto com as mulheres do Pontal”, acrescenta a bióloga.

Reprodução em cativeiro

O projeto Hippocampus atua ainda na recuperação da população por meio da reprodução em cativeiro do H. reidi. Os pesquisadores do Labaquac já conseguiram obter duas gerações de cavalos-marinhos a partir de casais retirados do manguezal, mas o repovoamento ainda está longe.

Hippocampus reidi
Duas gerações de cavalos-marinhos ‘H. reidi’ já foram obtidas a partir de casais retirados do manguezal de Maracaípe (foto: Rosana Silveira/Projeto Hippocampus).

“Não podemos simplesmente procriar os peixes e soltar a cria no ambiente natural. Precisamos determinar o perfil genético dos animais para ter certeza de que a reintrodução não irá causar danos à população”, explica.

Segundo a bióloga, como a população de cavalos-marinhos de Maracaípe é muito pequena, ela pode estar desestruturada. Ou seja, há a possibilidade de haver muitos cruzamentos entre membros de uma mesma família, o que levaria ao aumento da frequência de determinadas doenças genéticas.

Por isso, é necessário selecionar os casais que farão parte da recuperação. Terminada essa etapa, o repovoamento seria feito com animais de três a cinco meses de idade, cuja taxa de sobrevivência é de cerca de 90%. Os cavalos-marinhos vivem em média cinco anos.

Mas nem tudo é notícia ruim. Silveira diz que a situação dos H. reidi não é a mesma em todos os lugares. “A população de cavalos-marinhos do estuário do rio Ariquindá, em Tamandaré (PE), é excelente, tanto em quantidade quanto em estrutura de população”, afirma.

Fred Furtado
Ciência Hoje/RJ

Texto originalmente publicado na CH 275 (outubro/2010).

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