Mais um ramo em nossa árvore evolutiva

A evolução humana é um assunto intrigante e que facilmente mobiliza nossa curiosidade. Não é de estranhar, portanto, que os holofotes da mídia se acendam sempre que os estudiosos anunciam um novo achado fóssil de nossos ancestrais.

Foi o que ocorreu no início de abril último, após a revelação de que uma nova espécie de hominídeo havia sido formalmente descrita e nomeada. Trata-se do Australopithecus sediba, um possível elo de transição entre os gêneros Australopithecus e Homo.

‘Somos mamíferos primatas’ – eis uma frase que resume bem a posição que a espécie humana ocupa na escala zoológica. São conhecidas aproximadamente 5,4 mil espécies de mamíferos viventes, das quais umas 380 (incluindo a humana) são classificadas como primatas.

Das 5,4 mil espécies de mamíferos viventes, umas 380 (incluindo a humana) são de primatas

A história evolutiva dos mamíferos foi iniciada no começo da era Mesozoica, há cerca de 220-230 milhões de anos, a partir de uma linhagem ancestral de répteis (agora extintos) denominados terapsídeos.

No entanto, a ampla irradiação evolutiva do grupo só ocorreu no final daquela era, quase 100 milhões de anos depois. As primeiras linhagens reconhecidas como de primatas apareceram milhões de anos depois, já na era Cenozoica, iniciada há cerca de 65 milhões de anos.

O ramo ancestral que daria origem a todos os primatas dividiu-se, logo no início de sua história evolutiva, em duas linhagens: os estrepsirrinos (ou prossímios) e os haplorrinos (símios). Primatas estrepsirrinos são animais de pequeno porte, providos de rinário (região úmida e desprovida de pelos em torno das narinas) e cauda longa e não preênsil. O grupo, concentrado na África (principalmente Madagascar) e no Sudeste Asiático, inclui lórises, gálagos, lêmures e o aiai.

Já os haplorrinos são em geral animais de médio e grande porte, muitos providos de cauda preênsil. O grupo está concentrado nas regiões tropicais da África, da Ásia e das Américas Central e do Sul e inclui társios, macacos e humanos.

O ramo ancestral dos haplorrinos subdividiu-se em três grandes linhagens: os társios, os macacos do Novo Mundo (ou platirrinos) e os macacos do Velho Mundo (catarrinos). Toda a rica e diversificada fauna de primatas brasileiros é formada por macacos platirrinos.

Entre essas espécies estão, por exemplo, o macaco-prego (Cebus), micos e saguis (Callithrix e gêneros próximos), macaco-aranha (Ateles), muriqui (Brachyteles), bugios (Alouatta), uacaris (Cacajao), sauás (Callicebus) e o macaco-da-noite (Aotus).

Evolução humana
Modelo simplificado (algumas espécies foram omitidas) de árvore filogenética para o gênero ‘Homo’ e possíveis ancestrais mais próximos. As barras grossas indicam a abundância de restos fósseis, e a seta e o círculo indicam a região da árvore onde a espécie ‘Australopithecus sediba’ melhor se encaixaria.

Parentes mais próximos

Os primatas viventes mais intimamente relacionados aos seres humanos são os catarrinos, entre os quais duas grandes linhagens (referidas formalmente como superfamílias) costumam ser reconhecidas: Cercopithecoidea e Hominoidea.

A superfamília Cercopithecoidea abriga diversas espécies de macacos africanos e asiáticos, de hábitos arborícolas ou terrestres, caracterizados pela presença de cauda. Entre eles estão, por exemplo, babuínos (Papio), mandril (Mandrillus), colobos (Colobus) e o macaco-narigudo (Nasalis).

Já a superfamília Hominoidea costuma ser subdividida em dois grupos, o dos pequenos símios (gibões) e o dos grandes símios ou antropoides. Este último inclui o gênero humano (Homo) e outros três gêneros de primatas viventes: Gorilla (duas espécies de gorilas), Pan (chimpanzé e bonobo) e Pongo (duas espécies de orangotangos).

O elo entre os humanos e seus parentes vivos mais próximos é uma lacuna do conhecimento sobre a evolução dos antropoides

A grande maioria dos estudiosos concorda que chimpanzés e bonobos são os primatas viventes mais próximos da espécie humana. No entanto, os detalhes da separação dos ramos a partir dos quais surgiram humanos, por um lado, e chimpanzés e bonobos, por outro, ainda não estão devidamente documentados.

Esse hiato – retratado no imaginário popular como o ‘elo perdido’ entre os humanos e seus parentes vivos mais próximos – é uma das lacunas atuais do conhecimento sobre a história evolutiva dos antropoides.

Cabe ressaltar que o número de espécies de antropoides fósseis semelhantes aos seres humanos tem aumentado nos últimos anos. Entre esses novos achados, o candidato a elo mais antigo que se conhece é o Sahelanthropus tchadensis, o ‘homem de Toumai’, cujos primeiros restos fósseis – um crânio, pedaços de mandíbulas e alguns dentes – foram encontrados no deserto de Djurab, no Chade, em 2001.

A idade desses restos foi estimada em 7 milhões de anos, recuando assim a idade do ‘elo perdido’ em cerca de 3 milhões de anos – antes do homem de Toumai, o ‘elo’ mais antigo tinha cerca de 4 milhões de anos.

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Felipe A. P. L. Costa
Biólogo, autor de Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003)
[email protected]

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