A crescente procura pelo bacuri já supera a capacidade de produção atual, essencialmente extrativa. Mas estudos mostram que essa situação pode ser modificada com a adoção do cultivo e do manejo de plantas originadas da regeneração natural da espécie. Isso geraria renda e emprego, e permitiria a recuperação parcial de extensas áreas desmatadas e abandonadas.
O bacuri é uma das frutas mais populares da região amazônica. Essa fruta, pouco maior que uma laranja, contém polpa agridoce rica em potássio, fósforo e cálcio, que é consumida diretamente ou utilizada na produção de doces, sorvetes, sucos, geleias, licores e outras iguarias.
Sua casca também é aproveitada na culinária regional, e o óleo extraído de suas sementes é usado como anti-inflamatório e cicatrizante na medicina popular e na indústria de cosméticos.
O bacurizeiro (Platonia insignis) pode atingir mais de 30 m de altura, com tronco de até 2 m de diâmetro nos indivíduos mais desenvolvidos. Sua madeira, considerada nobre, também tem variadas aplicações. Essa árvore ocorre naturalmente desde a ilha de Marajó, na foz do rio Amazonas, até o Piauí, seguindo a costa do Pará e do Maranhão.
O bacurizeiro é uma das poucas espécies arbóreas da Amazônia que se reproduzem de modo tanto sexuado (por meio de sementes) quanto assexuado (por brotações oriundas de raízes).
Em áreas de ocorrência natural, com vegetação aberta, a densidade de indivíduos em início de regeneração pode chegar a 40 mil por hectare (1 ha equivale a uma área de 100 m x 100 m), por causa das brotações. Por esse motivo, o caboclo amazônico diz que o “bacurizeiro nasce até dentro de casa”.
A produção atual de polpa de bacuri tem origem basicamente na coleta dos frutos de árvores oriundas de regeneração natural, que escaparam da expansão de povoados, do avanço da agricultura e da pecuária e da extração madeireira no litoral do Pará e do Maranhão nos últimos quatro séculos.
No passado, o bacurizeiro foi mais importante como espécie madeireira que como planta frutífera. Sua madeira resistente e de coloração bege-amarelada era muito utilizada na construção de embarcações e de casas, o que ainda é observado em muitas áreas de ocorrência natural.
Do extrativismo ao manejo
O mercado de frutas amazônicas tinha, até recentemente, consumo local e restrito ao período da safra. Porém, a crescente exposição da região nos meios de comunicação, no país e no exterior – sobretudo após o assassinato do ambientalista Chico Mendes (1944-1988) – chamou a atenção para esses produtos.
O aumento da procura pela polpa de bacuri elevou seu valor (o preço por quilo passou de R$ 10, em 2005, para até R$ 20 atualmente) e indicou que a produção extrativa não tem condições de atender sequer o mercado local.
Essa maior pressão de demanda teve reflexos nas áreas de ocorrência, induzindo o manejo dos rebrotamentos naturais e o estabelecimento de pomares por agricultores do Pará, em especial da colônia nipo-brasileira no estado.
O bacuri, que era uma das ‘comidas do mato’ de Macunaíma, o ‘herói sem nenhum caráter’ do romance modernista (1928) de Mário de Andrade (1893-1945), prepara-se para seguir o caminho de castanha-do-brasil, guaraná, açaí, cupuaçu e pupunha, ganhando dimensão nacional e internacional.
Alfredo Homma,
José Edmar Urano de Carvalho
e Antônio José Elias Amorim de Menezes
Embrapa Amazônia Oriental,
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária