Representação artística da Via Láctea, que abriga o nosso sistema solar. A Via Láctea é uma das bilhões de galáxias do universo. Imagem: Nasa.
Os poucos objetos estranhos então observados no céu ganhavam o nome de ’nebulosas’, dada a sua aparência. Mais tarde, para espanto até mesmo da comunidade científica, foram reconhecidos como enormes conjuntos de estrelas, como a nossa Via Láctea.
Ironicamente, nessa época, nebuloso também era o nosso conhecimento sobre o universo. Não sabíamos quase nada sobre ele e nos limitávamos às observações ópticas do céu, pois nem mesmo a radioastronomia havia sido criada.
A cosmologia – que estuda o universo como um todo, tentando explicar sua origem, evolução e seu estado atual – começava, então, a engatinhar rumo à aventura espetacular da descoberta do cosmos.
A cosmologia contou com vários fatores que contribuíram para o seu grande desenvolvimento no último século: teorias e modelos mais elaborados e observações do céu cada vez mais numerosas e precisas. Entre estas últimas, se destacam a abertura de novas janelas para o universo – como a proporcionada pela radioastronomia –, bem como a possibilidade de colocar telescópios no espaço, livres da influência da atmosfera terrestre.
No início do século passado, os astrofísicos dispunham de poucas informações sobre o céu e, conseqüentemente, não podiam fazer muitas inferências cosmológicas. Medir grandes distâncias no universo sempre foi um enorme desafio para os astrônomos. Esse problema começou a ser minimizado em 1912, quando a norte-americana Henrietta Leavitt (1868-1921), ao estudar estrelas variáveis conhecidas como cefeídas, descobriu que existe uma relação entre o período de variação do brilho dessas estrelas e sua luminosidade intrínseca, de forma que, quanto maior for esse período, maior também será a luminosidade.
Assim, passou a ser possível estimar grandes distâncias no universo, pois essas estrelas podem ser consideradas como uma espécie de padrão de calibração para distâncias astronômicas. Espera-se que as cefeídas apresentem sempre o mesmo comportamento, independentemente de onde estejam, possibilitando, dessa forma, uma estimativa direta da distância a partir da medida do período de variação de sua luminosidade. Uma contribuição fabulosa!
Também a partir de 1912, outro norte-americano, Vesto Slipher (1875-1969), começou um trabalho monumental ao fazer observações sistemáticas de nebulosas. Ele desconfiou que as nebulosas espirais e algumas elípticas estavam se afastando de nós com grandes velocidades, de forma que considerá-las como membros da Via Láctea passou a ser algo questionável. Eram as primeiras evidências de que o universo estava se expandindo.
Thyrso Villela Neto,
Divisão de Astrofísica,
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.