É verdade que o cérebro funciona de modo quântico?

Os microtúbulos neurais são estruturas de forma tubular formadas por polímeros da proteína tubulina e outras proteínas associadas a ela. Esses ‘tubos’ formam uma rede no citoplasma de todas as células eucarióticas, ou seja, as que têm núcleo definido. Nos neurônios, os microtúbulos estão envolvidos em diversas funções, como transporte de vesículas e crescimento de prolongamentos (axônios). O que tais estruturas têm a ver com a teoria quântica, que descreve as propriedades das unidades fundamentais da matéria, como a dualidade onda-partícula, presente apenas em escala subatômica? Recentemente, o matemático norte-americano Roger Penrose propôs que a consciência seria um ‘atributo’ (algo inerente, e não adquirido) da matéria, dependente das propriedades das partículas fundamentais.

Segundo essa teoria, a convergência de um conjunto de ondas-partículas quânticas levaria a um estado coerente, que se manifestaria em nível macroscópico, de modo semelhante ao que se observa em fenômenos físicos como supercondutividade, condensado Bose-Einstein e emissão de raios laser. Penrose, junto com o anestesista norte-americano Stuart Hameroff, sugeriu que a estrutura regular (polimérica) dos microtúbulos poderia levar a uma convergência similar que extrapolaria o nível subatômico e se expressaria como uma experiência consciente.

Achou complicado e implausível? Você não está só. Os críticos da proposta argumentam que ela se apóia em pontos ainda obscuros da teoria quântica (como a gravitação quântica) e que o microambiente dos neurônios (onde ficam os microtúbulos) não seria apropriado para a ocorrência de fenômenos como esses. Ou seja, essa é uma idéia muito controversa e ainda sem comprovação satisfatória. No entanto, ela permite algumas predições que podem ser testadas experimentalmente e traz uma nova explicação para a natureza da consciência, diferente das explicações de outras teorias sobre esse fenômeno.

Ciência Hoje 168, janeiro/fevereiro 2001 
João Ricardo Lacerda de Menezes
e Flávia Carvalho Alcantara Gomes,
Instituto de Ciências Biomédicas,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

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