Por que células de clones de vacas parecem mais jovens que as de vacas normais da mesma idade?

 

A clonagem de bezerros, divulgada na Science de 28 de abril de 2000, revelou que, ao contrário das células da ovelha Dolly, houve uma ‘recalibração’ do relógio nas células do bezerro. Ou seja, o número de vezes em que as células somáticas do doador dividiram-se em cultura não afetou a expectativa de vida dessas células nos organismos clonados. Esse reajuste indica que o programa de divisões celulares foi zerado a partir da transferência nuclear, provocando um aumento no tamanho dos telômeros (extremidades dos cromossomos capazes de se estender antes de cada replicação do DNA, para que a nova cópia tenha o tamanho original) dos animais clonados. No caso dos bezerros clonados, o tamanho do telômero era maior que o de animais com idades comparáveis.

O resultado sugere que, se de fato o tamanho do telômero regula o número de divisões das células somáticas, os bezerros clonados viverão mais do que os animais-controle. Não há explicações para a discrepância entre esses resultados e aqueles obtidos com a ovelha Dolly. Entretanto, os autores consideram várias possibilidades: as diferenças das espécies clonadas, as técnicas de transferência nuclear distintas e os tipos de células do doador. Mas a segunda hipótese merece alguns comentários.

No caso de Dolly, antes da transferência, as células doadoras tornaram-se quiescentes (em estado de dormência) em cultura, através da inanição – retirada de nutrientes do meio. É como se estivessem hibernando. Já as células doadoras dos bezerros tornaram-se senescentes, ou seja, dividiram-se muitas vezes em cultura, o que pode inibir a produção de certos fatores importantes para o processo de reajuste da telomerase, que produz o encurtamento gradual dos telômeros a cada divisão. Provavelmente, o período relativamente longo em cultura (que provoca a senescência) foi importante para zerar o relógio, gerando telômeros maiores e, conseqüentemente, a potencial longevidade das células descendentes das precursoras senescentes. Já a inanição usada para induzir as células de Dolly teria preservado esses fatores, permitindo o encurtamento gradual dos telômeros.

Ciência Hoje 168, janeiro/fevereiro 2001
Franklin Rumjanek
Instituto de Ciências Biomédicas,
Universidade Federal do Rio de Janeiro
.

 

Outros conteúdos desta edição

Outros conteúdos nesta categoria

614_256 att-22975
614_256 att-22985
614_256 att-22993
614_256 att-22995
614_256 att-22987
614_256 att-22991
614_256 att-22989
614_256 att-22999
614_256 att-22983
614_256 att-22997
614_256 att-22963
614_256 att-22937
614_256 att-22931
614_256 att-22965
614_256 att-23039