Educação e vacina contra febre reumática


O Programa de Prevenção à Febre Reumática (Prefere) do Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras (RJ), em funcionamento desde o ano passado, está cada vez mais próximo de seu objetivo: criar uma rede de divulgação de informações sobre a doença e sua prevenção. Em outra frente, pesquisadores da Universidade de São Paulo vêm estudando a doença há 17 anos e já trabalham na busca de uma vacina.

A bactéria  Streptoccocus confunde o sistema imune e pode levar ao surgimento da febre reumática

A febre reumática é resultado da evolução de uma amigdalite (inflamação das amígdalas) bacteriana. Quando não é combatido adequadamente, o Streptoccocus ‐ bactéria causadora da amidalite ‐ pode causar uma reação inflamatória capaz de deixar seqüelas nas válvulas cardíacas por toda a vida. Por ter em sua estrutura elementos que se assemelham a partes de algumas células humanas, como as cardíacas, as das articulações e as cerebrais, essas bactérias confundem o organismo que, ao tentar combatê-las, ataca a si mesmo. Esse processo auto-imune resulta na febre reumática, que atinge principalmente crianças e adolescentes de cinco a 15 anos.

Observando a faixa etária que apresenta maior incidência da doença, o Prefere se aliou à comunidade escolar. O projeto-piloto do Prefere, implantado em Niterói, é desenvolvido em 32 duas escolas municipais, nas quais estudam cerca de 17 mil alunos. Ele forma professores multiplicadores que atuam orientando os professores e fornecendo informações sobre a doença, além de material didático a respeito de suas formas de prevenção. “Ao final do ano, a equipe do Prefere pretende reunir todo o material produzido por professores e alunos, para organizar um ‘kit pedagógico’, que poderá ser usado em outros municípios nos anos seguintes”, diz a médica Regina Müller, uma das coordenadoras do projeto. Além disso, o Prefere organiza cursos de atualização para profissionais da rede básica de saúde e das emergências, e estimula o trabalho conjunto das escolas com as unidades de saúde.

Em todo o mundo, a febre reumática mata cerca de 400 mil pessoas a cada ano. Os casos concentram-se em países em desenvolvimento ‐ um indicador de que a doença está intimamente ligada à falta de informação e de atendimento básico de saúde.

Atentos a esses dados, pesquisadores do Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (USP) vêm há quase duas décadas estudando a febre reumática. “Passamos 15 anos tentando compreender a doença, entender como ela funciona e como o estreptococo está ligado a ela”, conta a farmacêutica Luiza Guilherme, coordenadora da pesquisa. Ela alerta também para o fato de que a febre reumática é hoje a segunda doença mais cara para o Sistema Único de Saúde (SUS), atrás apenas da Aids.

Nos últimos três anos, a equipe da USP tem se dedicado ao desenvolvimento de uma vacina para a febre reumática. O trabalho apresenta resultados promissores. Os pesquisadores estão tentando identificar os pontos fracos da bactéria, que podem ser a porta de entrada para a ação de uma vacina. “Se tudo correr bem, teremos a vacina pronta dentro de cinco anos”, prevê Guilherme.

Tiago Carvalho
Ciência Hoje/ RJ
 

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