Entrevista: Francisco Radler – Campeão de análises

 
 
 
                                                                                                                                                               (Foto: Fred Furtado)

Há apenas 33 laboratórios no mundo credenciados pela Agência Mundial Antidopagem (AMA) para realizar os testes de doping em competições internacionais – um deles é brasileiro. O Laboratório de Controle de Dopagem (Lab Dop), associado ao Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec) do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi criado em 1989 e foi o primeiro do Brasil e da América Latina a ter acreditação (termo atualmente usado com significado de credenciamento) internacional. A existência do Lab Dop teria inclusive sido um dos fatores que auxiliaram o Rio de Janeiro a ganhar a concorrência para sediar os Jogos Pan-americanos deste ano. O químico Francisco Radler, coordenador geral do Ladetec, lembra que a presença do laboratório, segundo o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, foi um elemento importante para derrotar a cidade norte-americana de San Antonio.

Como parte dos preparativos do Pan, o Lab Dop recebeu um investimento de R$ 7 milhões do governo federal, destinado à compra de equipamentos e à reforma das instalações. Ambos muito necessários, já que o laboratório vai se responsabilizar por todo o controle de dopagem do evento, chegando a processar em 15 dias cerca de 25% de sua carga anual de análises. Nesta entrevista, Radler fala sobre o Lab Dop e suas atividades, dopagem e suas conseqüências, e sobre como a sociedade influencia essa prática. 

Quais foram as exigências para o credenciamento do laboratório?
Antigamente, o credenciamento era feito pelo Comitê Olímpico Internacional [COI], mas em 2004 criou-se a AMA, que passou a ser responsável por essa função. Essa acreditação é feita para o controle de doping em geral – uma vez recebida, o laboratório pode atender a qualquer tipo de evento. Para obtê-la é necessário possuir a tecnologia, as instalações e o pessoal treinado. Além disso, é preciso ter uma acreditação prévia, fornecida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial [Inmetro], segundo a norma ISO 17.025, que é muito rigorosa e abrange o trabalho de laboratório. Como parte do processo, o laboratório é submetido, a cada três meses, a um controle com amostras cegas, cuja composição deve ser completamente identificada. Algo que não é claro para todos é o fato de esse credenciamento ser dinâmico – é preciso se recredenciar a cada ano. Além disso, os atletas estão sempre criando novas situações de doping para as quais se necessita adaptar o laboratório, desenvolvendo tecnologias e ajustando o equipamento. Isso é caro para o sistema e não se investiu no laboratório ao longo dos anos. Só em 2005 foram alocados recursos para equipamentos e, no final do ano passado, quando houve investimento para adaptação dos laboratórios, começamos de fato a nos preparar para o Pan.

Como o Lab Dop se compara com outros do mundo em relação a equipamentos, serviços etc.?
Depois do investimento pesado do Ministério do Esporte em equipamentos, cerca de R$ 7 milhões, completamos nosso parque de instrumentos e hoje estamos tão bem, em termos de infra-estrutura, quanto qualquer um dos melhores laboratórios olímpicos. É preciso lembrar que nem todos têm todas as capacidades de análise. Às vezes, é mais sensato repassar algumas atividades, que são muito caras ou para as quais se tem pouca freqüência de amostras, para outras instituições.

Como é a rotina normal do laboratório e como ela deve mudar com o Pan?
Analisamos aproximadamente quatro mil amostras por ano; no Pan, serão de 1.200 a 1.300 em 15 dias. Ou seja, em duas semanas, faremos praticamente um quarto da carga anual de análises. Por isso, teremos várias equipes trabalhando em paralelo, em três turnos de 10 horas, sete dias por semana. Esse regime começará no dia 7 de julho, porque o controle de doping se inicia já na vila pan-americana, quando as delegações chegam, sendo essa etapa chamada ‘fora de competição’.

Quais os tipos de análises que são feitas no Lab Dop?
A proposta do Pan foi capacitar o laboratório para fazer todas as triagens e confirmações. As duas grandes novidades são a análise da eritropoietina, substância muito ‘badalada’ hoje em dia, e a espectrometria de massas por razão isotópica. A primeira é uma proteína que aumenta a produção de glóbulos vermelhos no sangue. A segunda é uma técnica que confirma o abuso de anabolizantes produzidos pelo corpo, conhecidos como endógenos. Embora essas substâncias estejam presentes naturalmente no nosso organismo, como a testosterona, é possível tomar um remédio que as inclua em sua composição. Para o químico, é difícil identificar a origem da molécula, já que as duas versões, a natural e a produzida, são iguais. Felizmente, a composição de isótopos [átomos de um mesmo elemento, mas que possuem diferente número de nêutrons] de carbono das duas é distinta e essa diferença pode ser detectada por essa técnica.

Franklin Rumjanek
Instituto de Bioquímica/UFRJ
Fred Furtado
Ciência Hoje/RJ 

 

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