Muito mais que feijão com arroz

Os brasileiros receberam uma boa notícia. O bom e velho feijão com arroz, cativo na nossa mesa, pode ter efeito benéfico contra o câncer. A combinação, que está presente na alimentação da maioria dos brasileiros, independentemente de classe, cor ou religião, foi objeto de uma pesquisa que constatou sua capacidade de reduzir os riscos de desenvolver câncer oral.

A pesquisa, conduzida pela nutricionista Dirce Marchioni, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, faz parte de um estudo maior da Agência Nacional de Pesquisa em Câncer, que investigou a relação entre fatores ambientais e o câncer oral. Sem colesterol e com baixo teor de gorduras saturadas, os dois alimentos fornecem uma boa composição de proteínas, fibras e carboidratos. Contudo, o mecanismo que explicaria a proteção contra o câncer oral ainda não foi esclarecido totalmente.

Participaram do estudo 835 indivíduos da cidade de São Paulo, dos quais 366 sofriam de câncer de cavidade oral ou faringe. Outros 469 indivíduos faziam parte do grupo de controle, ou seja, não poderiam ter história ou suspeita de câncer nessas regiões do corpo. A análise incluiu indicadores socioculturais, fatores de risco como tabagismo e consumo de álcool, histórico familiar de câncer e um questionário sobre a dieta dos participantes. Observou-se uma tendência significativa de diminuição do risco de apresentar câncer oral ao se aumentar o consumo de arroz e feijão. “Quanto mais as pessoas do estudo consumiram arroz e feijão, menor foi a probabilidade de elas pertencerem ao grupo dos indivíduos com a doença”, observa a nutricionista.

Em 2006, o câncer de cavidade oral, no Brasil, representou 2,8% de todas as neoplasias malignas, ocupando a sétima posição entre os cânceres mais comuns, e a quinta entre os homens, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer. Dos estados brasileiros, São Paulo apresenta a mais elevada incidência de câncer oral, seguido do Rio Grande do Sul.

Além dos fatores nutricionais, aspectos comportamentais também estão sendo estudados, com o objetivo de identificar a sua influência no aumento dos riscos da doença. Segundo Marchioni, os homens são mais propensos a desenvolverem esse tipo de câncer, uma vez que fumam e bebem mais que as mulheres. “Nas últimas décadas, no entanto, esse perfil vem mudando: fatores socioculturais têm levado as mulheres a fumar mais e consumir mais álcool.”

Embora sejam esperadas conclusões mais sólidas até o fim deste ano com o prosseguimento dos estudos, os resultados obtidos até agora permitem inferir sobre a importância da dieta como fator protetor de doenças carcinogênicas. Já se sabe que frutas, vegetais e leguminosas são aliados na prevenção do câncer. Marchioni ressalta que os resultados do trabalho ainda são preliminares e os efeitos benéficos dessa combinação dietética ainda devem ser mais bem explicados.

A nutricionista lamenta que os brasileiros estejam comendo menos feijão e atribui isso à dificuldade de preparo, à falta de tempo. Ela lembra que o Ministério da Saúde está empenhado em campanhas de incentivo ao consumo de feijão. “As leguminosas têm entrado na pauta das discussões científicas recentemente. Por serem grãos integrais, ricos em fibras e em antioxidantes, regulam a digestão e ainda podem prevenir o câncer. Por isso, há essa necessidade de resgate desse alimento.”

Fabíola Bezerra
Ciência Hoje/RJ

 

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