O nível médio do mar pode aumentar entre 30 e 60 centímetros até o ano de 2100 em decorrência das mudanças climáticas, afirmam os pesquisadores. O que aconteceria com o Rio de Janeiro, um dos pontos turísticos mais famosos do Brasil, em um cenário como esse? Cientistas brasileiros afirmam que, se medidas preventivas forem tomadas desde já, os efeitos mais graves serão evitados. As praias de enseada, como as de Copacabana e Ipanema, podem ser mantidas praticamente como são hoje por meio do acréscimo de areia. Em praias mais abertas, como a da Barra da Tijuca, seria necessário construir estruturas transversais, criando enseadas para melhor retenção do acréscimo de areia. As regiões de baixada, que seriam as mais afetadas, devido ao aumento do volume e da freqüência das inundações naturais, precisariam de um plano de remoção da população das áreas de risco. O aumento do nível do mar dificultaria ainda mais a macrodrenagem dessas regiões, aumentando as inundações. O maior problema seriam os custos dessas obras.

Segundo Paulo César Colonna Rosman, professor de Engenharia Costeira e Oceanográfica do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), a elevação do nível do mar é um assunto discutido na área de gerenciamento costeiro há mais de 20 anos e, por isso, muitas soluções já são conhecidas. Em locais como Ipanema e Leblon, nos quais o cordão de dunas original foi coberto por ruas e calçadas, o mais viável seria a reposição de areia, que poderia vir, por exemplo, da entrada da baía de Guanabara. Essa medida exigiria investimentos de cerca de R$ 5 milhões por quilômetro de linha de praia, teria impacto paisagístico positivo e manteria a orla como espaço de lazer e turismo.

O que realmente preocupa o engenheiro é um assunto pouco estudado: a alteração da direção de propagação das ondas. Rosman explica que as mudanças climáticas podem interferir nos padrões da circulação atmosférica que controla a direção dos ventos. Essa modificação faria com que as ondas se comportassem de maneira diferente, alterando o alinhamento da faixa de areia. “Esse é um fenômeno que poderia provocar sérios danos à costa urbanizada”, preocupa-se.

Rosman destaca ainda outro problema: a falta de informações detalhadas sobre as áreas potencialmente inundáveis. “A cidade de Recife, em Pernambuco, é uma das poucas no país com esse tipo de levantamento, porque é também uma das mais vulneráveis.” No Rio de Janeiro, não há dados atualizados de altura do terreno costeiro em relação ao nível do mar, de topografia de orla, de profundidade de lagoas e baías. Segundo o pesquisador, tais dados deveriam ser levantados com urgência para permitir estimativas de custo realistas das intervenções necessárias.

Regiões mais afetadas: as mais pobres
Enquanto na orla os efeitos do aumento do nível do mar são contornáveis, na baixada fluminense o problema é mais grave. Paulo Canedo, da área de Recursos Hídricos da Coppe, usa o exemplo do rio Sarapuí, que corta os municípios de Nova Iguaçu, Mesquita, Belford Roxo, Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caxias, para mostrar o que pode acontecer em áreas de baixada litorânea de todo o país. “Hoje, na maré alta, a influência da água salgada avança 15 km pelo leito do rio Sarapuí. Com a elevação permanente do nível do mar, esse valor aumentará e as inundações atingirão as populações de baixa renda instaladas nas margens”, explica Canedo, lembrando que a entrada de água salgada nos rios é um fenômeno natural que se intensificará muitíssimo com o aumento do nível do mar.

No passado, a solução encontrada foi a construção de diques e pôlderes (elevação artificial da margem com sistema mecânico para escoar a água). Porém, a instalação de novos diques não seria necessariamente a melhor alternativa no futuro. “Essas são construções caras e difíceis de projetar, até pela falta de espaço disponível. Hoje muitas pessoas moram em torno e até em cima dos diques”, observa Canedo.

Os pesquisadores afirmam ainda que pode haver comprometimento dos locais de captação de água para abastecimento da cidade. Com a maior intrusão da água salgada, eles passariam a ter água salobra em vez de doce.

Esses dados foram apresentados no seminário Adaptação e Vulnerabilidade da Cidade do Rio de Janeiro à Elevação do Nível do Mar pelo Aquecimento Global, realizado em março na Coppe. A boa notícia dada no evento é que há tempo para planejar e agir de forma a evitar os danos. Ou seja: Copacabana submersa, só na ficção.

Mariana Ferraz
Ciência Hoje/RJ

 

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