Há sete décadas, um mistério vem assombrando o vale da Morte (EUA): pedras movem-se sozinhas. Agora, elas foram pegas no ato. E o fenômeno intrigante foi solucionado.
No Parque Nacional do Vale da Morte, que fica entre os estados da Califórnia e de Nevada, um local conhecido como Racetrack Playa – na verdade, um leito seco de um lago – abriga rochas (algumas bem pesadas) que se movimentavam e deixavam um rastro desse deslocamento. O problema é que, até agora, ninguém as havia visto se mexerem. O que se observava era sempre a mesma coisa: a pedra parada, e, atrás dela, uma trajetória – às vezes, longa e em ziguezague.
E, como todo fato intrigante, várias teorias (científicas ou não) surgiram para explicar as tais pedras deslizantes.
Em 2011, dois primos, Richard Norris, do Instituto Scripps de Oceanografia, na Califórnia (EUA), e Jim Norris, engenheiro da iniciativa privada, levaram equipamentos para Racetrack Playa. Lá, instalaram câmeras fotográficas especiais e puseram detectores GPS em 15 pedras – a mais pesada delas com cerca de 15 kg. Um colega chegou a dizer que o experimento tinha tudo para ser o “mais chato feito até hoje”.
Mas a monotonia se quebrou em novembro do ano passado. Os sensores mostraram pedras se movendo com velocidades de 3 a 6 m/min. E tudo foi registrado pelas câmeras. Daí em diante, foi analisar os dados.
A conclusão: o movimento das pedras se deve a uma conjunção de fatores: chuva, vento, gelo e Sol. Já se desconfiava de alguns desses, mas a novidade dos resultados dos Norris é que cada um desses ingredientes tem que entrar na medida certa para fazer de uma pedra uma deslizadora.
Para Carl Engelking, da revista Discovery, os primos explicaram o passo a passo do fenômeno, relatado em artigo no periódico PLoS One: i) primeiro tem que chover; ii) depois, tem que se formar um pequeno lago raso; iii) a água do laguinho tem que congelar com o frio da noite e derreter com o calor do dia; iv) aí as camadas finíssimas (de milímetros) de gelo começam a se quebrar em pedaços grandes (com dezenas de metros de largura) e passam a flutuar sobre a água do laguinho.
Agora, a parte crucial: tem que entrar em cena um vento com velocidade entre 10 e 15 km/h que empurra as placas de gelo em direção às pedras, que, por sua vez, se deslocam com o empurrão, deixando um rastro para trás.
A explicação foi bem recebida pela comunidade de especialistas.
Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ
Texto originalmente publicado na CH 319 (outubro de 2014). Clique aqui para acessar uma versão parcial da revista.
Este texto foi atualizado para incluir a seguinte alteração:
As pedras se movem com velocidades de 3 a 6 m/min, e não de 3 a 16 m/s, como foi dito anteriormente. Já o vento necessário para que o fenômeno ocorra deve ser de 10 a 15 km/h, e não de 10 a 15 m/h. (30/10/2014)