Muito antes de ter seu rosto estampado numa nota de mil cruzeiros, o bigodão e a calva do Barão do Rio Branco já eram bem conhecidos. José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912), patrono da diplomacia brasileira, foi uma das personalidades públicas mais caricaturadas em seu tempo.
Entre críticas e elogios, ele foi retratado por grandes chargistas, como K-Lixto, J. Carlos, Bambino, Crispim, Lobão e Raul, em mais de mil desenhos publicados pela imprensa carioca. Alguns desses trabalhos fazem parte da exposição O barão e a caricatura: Rio Branco no traço dos caricaturistas, em cartaz na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, até o final de outubro.
Ministro das Relações Exteriores entre 1902 e 1912, o Barão do Rio Branco conquistou status de herói junto ao público, graças à consolidação das fronteiras nacionais. Intermediou diversos conflitos, como a Guerra do Paraguai, e resolveu a pendência do Brasil com a Guiana Francesa sobre a região do Amapá, o que lhe garantiu o título de nobreza em 1888. Em 1902, negociou com a Bolívia o direito do Brasil sobre o Acre. “Não usou de armas para resolver essas questões. Grande conhecedor de história, geografia e direito, ele as resolveu com argumentos”, destaca o historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva, que coordenou o ciclo de conferências sobre o centenário de morte do Barão do Rio Branco, realizado em agosto último na Academia Brasileira de Letras.
As caricaturas em exposição fazem parte da coleção de recortes de jornais do Barão do Rio Branco, organizada em 147 volumes e pertencente ao Arquivo Histórico do Itamaraty. A historiadora Angela Telles, curadora da mostra, explica que Rio Branco gostava de colecionar tudo o que saía na imprensa sobre ele e sua gestão. Ao notar que havia um volume dedicado apenas às charges, ela teve a ideia da exposição, montada originalmente em 2000 e agora reeditada em função do centenário de morte do Barão.
Ao contrário de outros políticos da época, ele era geralmente retratado de forma positiva. Imagens do ministro como um dos três mosqueteiros de Alexandre Dumas, como Rei Mago ou até como Hércules enfrentando a Hidra refletiam sua grande popularidade. Ainda assim, ele não escapou de críticas. Durante o verão de 1903, por exemplo, foi publicada uma charge onde aparecia ao lado de outros ministros, viajando para Petrópolis (RJ). “Naquela época, era comum os principais políticos abandonarem o Rio de Janeiro, fugindo das doenças que assolavam a cidade durante o verão. Petrópolis era o principal refúgio”, explica Angela.
A disputa entre Brasil e Bolívia pelo Acre rendeu uma grande quantidade de caricaturas e eram constantes as charges que o difamavam. As de Alfredo Cândido para A Larva se destacam nesse período. Contrária ao governo do presidente Rodrigues Alves, a revista atacava seus ministros. Quando Rio Branco resolveu a questão no final de 1903 e conseguiu realizar a compra do território, A Larva se redimiu e retratou o ministro de forma heroica.
A popularidade do Barão também se fez notar na propaganda. Eram comuns anúncios que exploravam sua imagem. “No meio dos recortes, encontramos comerciais de piano e até de cigarros com a figura do Rio Branco”, relata Telles.
Lucas Conrado Silva
Ciência Hoje/ RJ