Jeanne Calment (1875-1997). Notou a peculiaridade? Não? Então, subtraia as datas. Essa francesa morreu aos 122 anos de idade. É considerada a pessoa que (comprovadamente) viveu mais tempo na história. Impressionado? Ela andou de bicicleta até os 100, caminhou sozinha até os 115, fumou até os 117 – começou aos 21 anos de idade – e costumava comer 1 kg de chocolate por semana. Bebeu um copo de vinho por dia até sua morte. Seu segredo? Azeite, segundo ela, nas refeições e na pele.
Por que alguns vivem tanto? Genes? Dieta? Exercícios? Vida regrada? Quem esclarece essas e outras questões – afinal, o que é fato ou ficção nessa área? – é Winifred K. Rossi, vice-diretora da Divisão de Geriatria e Gerontologia Clínica de um dos mais importantes centros de referência no mundo sobre o assunto, o Instituto Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos. Gerontóloga e demógrafa, a pesquisadora é especialista em fatores que contribuem para a longevidade.
Nesta entrevista, Rossi – que já participou do desenvolvimento de políticas públicas para o Senado e a Casa Branca dos Estados Unidos na área de envelhecimento – fala sobre as certezas, as evidências e as dúvidas da ciência quando o assunto é viver muito. E com saúde, como Calment.
Que idade uma pessoa precisa ter para ser considera longeva? Mais de 90 anos, por exemplo?
Pesquisadores usam idades diferentes para definir longevidade em humanos. Por exemplo, estudos sobre vidas excepcionalmente longas e saudáveis são, em geral, focados em centenários, ou seja, aqueles com 100 ou mais anos de vida. Há muitos desses estudos sendo feitos neste momento, incluindo o chamado Estudo com Centenários da Nova Inglaterra [Estados Unidos] e o Estudo com Centenários de Okinawa [Japão]. Há outros semelhantes na Dinamarca, França e Itália.
Outros estudos sobre longevidade estão voltados para o número de membros de uma família que viveram bem além da expectativa média de vida, tipicamente aqueles que já estão bem perto ou já passaram dos 90 anos, dos 100 anos de idade. O Estudo Familiar sobre Longevidade, por exemplo, é feito com norte-americanos e dinamarqueses.
Existe algo como o povo mais longevo do mundo? Se sim, qual seria? Por que eles chegaram lá?
As pessoas mais longevas do mundo vivem na ilha de Okinawa [Japão]. Esses habitantes têm a mais alta expectativa de vida tanto para homens quanto mulheres. Lá, também está a proporção mais alta de centenários do mundo.
O estudo com essa população tenta entender como saúde, estilo de vida e fatores genéticos contribuem para uma vida excepcionalmente longa e saudável.
Longevidade tem algo a ver com altos níveis de bom colesterol, o chamado HDL? Ou com o tipo de sangue?
Pesquisas mostraram que judeus asquenazes [originários da Europa Central] centenários e seus filhos são mais propensos – quando comparados com a população em geral – a ter uma forma variante de um gene ligado a uma proteína que controla o colesterol. Essa forma de gene está associada a partículas maiores do que a média que carregam o colesterol no sangue, bem como a níveis mais altos de HDL, considerado o bom colesterol.
Essas duas características são encontradas nos descendentes de centenários asquenazes, e isso sugere que o tamanho daquelas partículas tem um componente familiar e promove uma vida longa e saudável.
Quanto à sua segunda pergunta, não há evidências de que o tipo de sangue (A, B, AB, ou O) tenha efeito sobre a longevidade.
Pessoas com o sistema imune mais agressivo vivem mais?
A atividade do sistema imune decresce ao longo da vida. Algumas doenças e condições relacionadas à idade são tidas como causadas por respostas inflamatórias que ocorrem como resultado do enfraquecimento da atividade imunológica.
Há estudos básicos e clínicos sendo feitos para examinar mudanças no sistema imune e a relação dessas alterações tanto com essas doenças e esses quadros quanto com o efeito que elas teriam sobre a longevidade.
Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje On-line