Pergunta enviada por Eduardo Vieira Rabello, por correio eletrônico.
Não há evidências conclusivas e suficientes para se acreditar que o chamado macaco aquático tenha mesmo existido. O que acontece é que o ser humano busca explicações para os fatos que a natureza lhe mostra. A existência de caracteres humanos como a pele com pouca cobertura de pelos, a distribuição dos pelos nas costas, a grande quantidade de gordura subcutânea e a boa habilidade em atividades natatórias e de mergulho fez pensar em uma hipótese segundo a qual os humanos teriam passado por um estágio aquático. Entretanto, todas essas evidências são pouco confiáveis, mesmo em conjunto. Para confirmar essa hipótese, seria necessária alguma evidência mais forte, como, por exemplo, a descoberta de fósseis desse antepassado humano, o que não ocorreu.
Muitas histórias de seres mitológicos são recorrentes pelo mundo. Em alguns casos, como o do chamado ‘pé grande’ (ou sasquatch), existe uma indústria lucrativa por trás disso. Outros casos são o mapinguari, da Amazônia, e mesmo o Papai Noel. O ser humano gosta do incrível, do fantástico, do grande, e deixa-se de lado uma visão mais racional, infelizmente.
O ‘macaco aquático’ é outro desses casos. Não há um animal assim, e nenhum ancestral humano se encaixa na descrição. O ser humano tem mais ou menos 180 mil anos de história como Homo sapiens e, se existisse um antepassado desse tipo, provavelmente uma evidência mais convincente já teria surgido. Existem outras explicações melhores (mas menos românticas) para as características humanas mencionadas.
Paulo Auricchio
Departamento de Biologia
Universidade Federal do Piauí
Texto originalmente publicado na CH 317 (agosto de 2014). Clique aqui para acessar uma versão parcial da revista.