A esplêndida foto que ilustra esta nota foi gentilmente cedida à CH pelo fotógrafo brasileiro Érico Hiller. Além da beleza do animal em si, nota-se a fantástica oposição entre o azul do céu e o verde do chão.
Mas há outro contraste subliminar na foto. Um que opõe resultados científicos admiráveis descritos, todo mês, nas notas desta seção – e prova da inegável aptidão da mente humana para produzir conhecimento – e a capacidade do mesmo H. sapiens de praticar atos inomináveis. Sudan, estampado acima, é infelizmente exemplo dessa segunda habilidade: ele é o último macho de rinoceronte-branco-do-norte. No planeta. Depois de vagar pela Terra por milhões de anos, essa espécie pode sumir. Fato triste? Não só. Vergonhoso para todos nós.
Por causa dos caçadores, Sudan, hoje com 42 anos, e dois outros rinocerontes-brancos-do-norte vivem vigiados por guardas armados 24 horas por dia, sete dias por semana. A ameaça a eles é a crença (sem fundamentação científica) da medicina asiática de que remédios feitos à base da queratina que forma seus chifres são afrodisíacos, curam reumatismo, câncer e até ressaca. O quilo, segundo reportagem do jornal britânico The Guardian (27/04/15), pode chegar a R$ 220 mil.
O ‘azar’ dos rinocerontes-brancos-do-norte foi habitar países em que o H. sapiens promoveu guerras e genocídios. Hoje, só há cinco espécimes vivos, três deles (Sudan incluso) em Ol Pejeta, área de conservação no Quênia.
O cenário ideal é Sudan – que passou grande parte da vida em um zoológico – cruzar com Fatu ou Najin, as duas fêmeas que vivem com ele na reserva ecológica. Mas seis anos se passaram, e isso ainda não aconteceu. Um rinoceronte vive de 40 a 50 anos. A saída, segundo especialistas em conservação, será extrair sêmen de Sudan, fertilizar um óvulo e enxertar um embrião. E esperar que a inseminação artificial tenha sucesso.
Segundo números de The Guardian, em 1900, havia cerca de 500 mil rinocerontes na Ásia e África. Hoje, são aproximadamente 29 mil. Em 2011, morreu o último rinoceronte-negro-ocidental. A espécie foi declarada extinta. A culpa é de seu maior (e quase único) predador: o ser humano.
Mais imagens da ‘Jornada do Rinoceronte’, exposição de Hiller, podem ser vistas aqui. O fotógrafo mantém, também, uma página com seus diários de viagem e uma conta no Instagram. Está preparando um livro com as fotos da jornada, com previsão de ser publicado ainda este ano.
Cássio Leite Vieira
Instituto Ciência Hoje/ RJ