Um estudo desenvolvido por pesquisadores do Paraná pode ajudar a compreender melhor como o organismo se defende da infecção pelo temido papilomavírus humano (HPV), responsável por grande parte dos casos de câncer de colo de útero. Segundo o trabalho coordenado pelo ginecologista Nelson Shozo Uchimura, do Departamento de Medicina da Universidade Estadual de Maringá (PR), aspectos relacionados à história de vida da mulher ‐ primeira menstruação após os 13 anos, precocidade sexual e cauterizações do colo ‐ teriam uma relação direta com a redução do número de células de Langerhans, importantes no combate ao HPV e ao câncer de colo uterino (carcinoma cervical). A descoberta foi publicada na edição de maio da Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia .
 
Estima-se que cerca de um terço das mulheres contraiam o HPV em algum momento de suas vidas. O vírus provoca uma infecção crônica ‐ uma vez instalado, ele permanece no organismo podendo ocorrer regressão espontânea ou desenvolver carcinoma cervical.
 
 
O estudo paranaense, que também contou com a participação de professores do Departamento de Enfermagem da UEM e do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo, procurou relacionar as causas que levam à redução das células de Langerhans. Pertencentes ao sistema imunológico, essas células são responsáveis pela fagocitose (ingestão e destruição de microrganismos estranhos) e por avisar o corpo sobre a presença de vírus ou tumores. Os pesquisadores avaliaram 30 mulheres cujos exames de captura híbrida foram negativos para o HPV, mas que apresentavam alterações citológicas ou lesões no colo uterino. As pacientes foram atendidas na Clínica da Mulher, da Secretaria Municipal de Saúde de Maringá, de agosto de 1999 a novembro de 2001.
 
“Percebemos que as lesões provocadas pelo HPV no colo uterino estavam relacionadas a um número menor de células de Langerhans e, portanto, a uma incapacidade de produzir respostas imunológicas normais”, observa Uchimura. Ele diz que as mulheres que tiveram a primeira menstruação depois dos 13 anos, as que sofreram cauterização de colo uterino e as que iniciaram cedo sua vida sexual apresentaram menor quantidade dessas células. ”Além desses, outros fatores biocomportamentais, como o fumo e o uso anticoncepcionais orais, também contribuem para essa redução”, ressalta.
 
Segundo o coordenador da pesquisa, não foi possível constatar uma relação, nas mulheres avaliadas, entre a idade e a quantidade de células de Langerhans. Também não houve uma diferença significativa na presença dessas células que pudesse ser associada ao número de gestações das pacientes.
 
“A dificuldade de produzir repostas imunológicas normais, por causa dos fatores biocomportamentais citados, associada à presença do HPV nas células do tecido do colo uterino podem contribuir para o início da oncogênese ‐ quando um gene muda o funcionamento normal da célula, podendo levar ao surgimento de câncer”, explica Uchimura.
De acordo com o médico, estudos mais detalhados devem ser realizados para aprimorar ainda mais os programas de prevenção e tratamento dos tumores de colo uterino.

 

Pedro Gomes Ribeiro
Ciência Hoje/RJ

 

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