(foto: Bruno Veiga)

Durante a ditadura militar brasileira, compositores e artistas desempenharam um papel relevante na defesa dos ideais de liberdade e de cidadania. A análise da obra e da trajetória profissional de Chico Buarque de Holanda, um dos mais importantes nomes da música popular, recupera esses momentos de crise política, e presta homenagem ao compositor pelos seus 60 anos.

A música popular brasileira, na sua complexidade conceitual, atingiu o prestígio que tem hoje graças à atuação dos compositores representativos dos anos 60, de nível universitário, e com forte engajamento social e político. Em consonância com a revolução musical instaurada pela bossa nova, no final dos anos 50, inserida no contexto das mudanças realizadas pelo governo – 1956 a 1961 ‐ do presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), delineia-se no país um desenho cultural e político de dimensão significativa para a compreensão do imaginário da época.

Embora o samba tenha exercido, em períodos anteriores, papel relevante para a legitimação dos conceitos modernos de nacionalidade e de identidade popular, articulando-se em torno de compositores de classes sociais distintas, somente mais tarde é que esse papel foi devidamente estudado. A retomada da linha evolutiva da música popular brasileira resultou do diálogo iniciado entre a classe intelectual e a classe artística, que ocorreu de modo incipiente nos anos 20 e 30 e teve sua efetiva realização nos anos 60-70.

Chico Buarque de Holanda conversa com o samba urbano de Noel Rosa, assim como Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros mesclam as inovações da música internacional aos ritmos nacionais. Motivados pela lição revolucionária da ‘batida’ de João Gilberto, das variações jazzísticas de Antonio Carlos Jobim (1927-1994) e da poética de Vinicius de Moraes (1913-1980), aquela nova geração de artistas-intelectuais exerceu um papel de destaque na consolidação da música popular contemporânea.

Como representante dessa classe de compositores, a escolha recaiu em Chico Buarque, não só pelo valor de sua obra, mas por estar o Brasil comemorando os seus 60 anos de idade. Com ele estariam contemplados outros artistas dessa época, igualmente defensores de princípios de cidadania e liberdade assumidos na luta contra o governo ditatorial instaurado em 1964. A função que a canção popular exerce hoje como formadora de opinião pública decorre, em grande escala, da posição mantida por Chico Buarque ao longo de sua trajetória profissional, na condição de pensador ‐ e de inventor ‐ da cultura nacional. Como motivo condutor desta proposta de análise, será enfocada a apropriação da música como antídoto e saída para os males da nação, tendo como núcleo a canção Paratodos , homenagem feita por Chico Buarque aos compositores brasileiros.

Eneida Maria de Souza
Faculdade de Letras,
Universidade Federal de Minas Gerais

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