Ciência Hoje/RJ

Na última reunião da Sociedade Norte-americana de Hematologia – em dezembro do ano passado –, Carl June, líder de uma equipe de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia (EUA), mostrou estratégia que modifica células T, do sistema imune, tornando-as vorazes contra a leucemia (câncer de sangue).

À receita de June e colegas, então. Primeiramente, são retiradas, do paciente, milhões de células T. Nelas, é introduzido um gene que as torna capazes de matar células cancerosas. Essa introdução é feita com a ajuda do HIV (vírus da Aids) atenuado – ou seja, que não causa a doença. As novas células T são reintroduzidas no paciente e, a partir daí, formam a linha de frente contra a leucemia.

O método foi primeiramente testado em Emma Whitehead, que, aos cinco anos de idade, foi diagnosticada com esse tipo de câncer. A doença voltou por duas vezes, mesmo depois dos tratamentos. Mas, com a nova técnica, o quadro regrediu, e Emma é considerada curada.

A técnica é, no momento, uma das poucas alternativas para pacientes para os quais se esgotaram todas as opções de tratamento

June tem esperanças de que a técnica venha a substituir o tratamento convencional contra a leucemia: o transplante de medula óssea, que é caro e arriscado. A técnica é, no momento, uma das poucas alternativas para pacientes para os quais se esgotaram todas as opções de tratamento. E já começou a ser testada em dois outros grandes centros de pesquisa nos EUA.

Mas…

Outros nove adultos, também com leucemia crônica, se submeteram ao tratamento. Dois deles, também se curaram; quatro melhoraram, mas ainda não são tidos como curados; em dois deles, o tratamento não funcionou. A equipe acredita que, nesses últimos, as células T eram defeituosas – ou seja, por algum motivo, o gene não foi introduzido adequadamente. Outro revés: uma criança da idade de Emma melhorou, mas depois teve uma recaída.

Dá para notar que a estratégia não é a panaceia que todos esperavam. Uma das razões é que, quando se trata de sistema imune, as coisas não são simples. Além disso, a nova técnica tem outros contratempos: i) é cara (cerca de R$ 40 mil por paciente, embora esse custo seja menor que o do transplante de medula); ii) mata também outras células (do tipo B) do sistema imune, o que obriga os médicos a monitorarem o paciente para doenças oportunistas.

Mas vale repetir: ela já salvou a vida de uma criança; portanto, vale cada centavo empregado na pesquisa que conduziu a ela.


Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ

Texto originalmente publicado na CH 300 (janeiro e fevereiro de 2013).

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