Tupis-guaranis habitavam o litoral há cerca de 3 mil anos

A datação de carvões de um sítio arqueológico em Araruama, no Rio de Janeiro, confirma o que até então era considerado improvável: que os índios tupis-guaranis já habitavam o litoral da região Sudeste entre 2600 e 2900 antes do presente (a.p.). Mas, se a descoberta prova a ocupação em tempos mais remotos do que se acreditava, também suscita uma nova questão.

Vestígios de urna funerária dos índios tupis-guaranis encontrada no sítio arqueológico de Aldeia Morro Grande, em Araruama (RJ). Foto: Angela Buarque.

Isso porque os carvões analisados fazem parte de uma fogueira composta por cascas de árvores e construída junto a uma urna funerária. É a primeira vez que esse tipo de fogueira é encontrado em um ritual funerário e os cientistas agora buscam explicações para o fato.

A coordenadora da pesquisa é a antracóloga (especialista na análise de carvões arqueológicos) Rita Scheel-Ybert, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Scheel-Ybert conta que, no final dos anos 1990, duas amostras de carvões do sítio de Morro Grande, em Araruama, foram datadas como sendo de 1740 a.p. e 2920 a.p..

“A datação do material em 1740 a.p. já foi uma surpresa e fez o sítio de Morro Grande ser considerado o mais antigo do Rio de Janeiro. Mas achei que havia algo errado quando, durante as pesquisas de meu doutorado, encontrei a data de 2920 a.p.. Essa data contrariava a tese dominante de que os tupis-guaranis haviam começado a deixar a Amazônia cerca de 2000 anos a.p.”, conta.

A pesquisadora acrescenta que, apesar da desconfiança inicial, uma análise posterior confirmou que a amostra tinha origem humana, sendo, provavelmente, relacionada a uma estrutura de queima de cerâmica. Além dessa confirmação, a datação de uma terceira amostra do mesmo sítio apontou que esta tinha a idade de 2600 anos a.p.. “Agora parece claro que os tupis-guaranis já habitavam a região nessa época”, diz Scheel-Ybert.

Essa terceira amostra é justamente a da fogueira de cascas de árvores encontrada junto à urna funerária. Os pesquisadores acreditam que seja um caso de transferência de um uso prático do fogo para um uso ritual. “O fogo produzido pela casca das árvores era usado para a preparação de cerâmicas por ser muito intenso. Acreditamos que essa intensidade tenha levado os índios a optarem por seu uso nos rituais de morte, em que o fogo serve para iluminar o caminho da alma até o paraíso ou para afastar os maus espíritos”, diz a pesquisadora.

Mariana Ferraz
Ciência Hoje/RJ

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