A redução dos besouros do gênero Cyclocephala pode levar ao desaparecimento das anonáceas, uma das famílias mais primitivas de angiospermas (plantas com flor), da Estação Ecológica de Itirapina (SP) e, consequentemente, afetar negativamente os animais de grande porte que se alimentam dessa espécie.
Essa é uma das conclusões da tese de doutorado do biólogo Hipólito Ferreira Paulino Neto, defendida em setembro último na Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, as anonáceas e os Cyclocephala têm uma longa e conjunta história evolutiva, na qual os besouros funcionam como polinizadores específicos dessas espécies vegetais.
“Elas podem se autopolinizar, mas quando a polinização ocorre por meio desses insetos, chamada de cantarofilia, o pólen vem de outras plantas da mesma espécie, aumentando a variabilidade e produtividade”, explica Paulino Neto, acrescentando que as anonáceas possuem pétalas carnosas que servem de alimento para os besouros e formam uma espécie de câmara que oferece abrigo e calor para os Cyclocephala.
O biólogo afirma que nos últimos dois anos foi incapaz de encontrar espécimes desses besouros na estação ecológica e que isso pode levar a um efeito em cascata, como a diminuição da produção de frutos e da população das várias espécies de anonáceas e, em consequência, dos animais que se alimentam dela, como quatis, lobo guarás e aves.
Embora não tenha ainda dados para confirmar, Paulino Neto suspeita que os agrotóxicos usados nas lavouras de tomate, cana e eucalipto localizadas ao redor da estação possam estar dizimando os besouros. “Se isso for confirmado, ações para redução do uso desses compostos deveriam ser tomadas, além da criação de um cinturão verde ao redor da estação. Como ela é relativamente pequena – basta caminhar 1 ou 2 km para chegar ao seu centro –, os agrotóxicos podem estar penetrando em toda sua extensão”, alerta.
Fred Furtado
Ciência Hoje / RJ
Texto publicado na CH 266 (dezembro/2009)