Revistas costumam ser espelhos das sociedades em que são criadas. Buscam retratar sua vida política e cultural, propõem desafios, geram reflexões, apontam tendências. A Revista da UFMG não é exceção. Publicada pela Universidade Federal de Minas Gerais de 1929 a 1969, ela voltou a circular em dezembro último em novos formato e proposta.
Órgão oficial da UFMG para registrar as decisões do conselho universitário em suas origens, a revista foi passando por transformações até se tornar, nos anos 1960, um instrumento de divulgação da produção acadêmica. Mais de 40 anos depois, a publicação retoma o nome e acolhe seu legado, mas com uma abordagem mais plural: transcender os limites das disciplinas e afinar acordes com a pauta internacional.
“Cada época, cada geração escolhe suas revistas e os problemas que quer enfrentar”, escreve o economista João Antonio de Paula na apresentação da edição inaugural. Mas qual seria o problema que a Revista da UFMG quer atacar? “Esperamos que consiga suscitar uma multiplicidade de perspectivas e olhares”, almeja João Antonio, editor da revista e pró-reitor de Planejamento da universidade. “Além disso, o grau de internacionalização da revista será muito maior.”
Ele lembra que diversas áreas do conhecimento têm revistas próprias e prestigiadas: “A ideia não é concorrer com elas, mas reforçar projetos interdisciplinares que já existem no meio acadêmico”. Para isso, a publicação conta com o apoio do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) e do Centro de Comunicação (Cedecom) da UFMG.
Iniciativa de João Antonio e de pesquisadores de diferentes departamentos da universidade que hoje compõem o conselho editorial, o relançamento foi rapidamente apoiado pela atual reitoria. As reuniões para concretizar o projeto começaram em 2011 e logo surgiu uma lista de temas que poderiam inspirar múltiplas interpretações.
‘Corpo’, tópico do primeiro número, se prestou bem a esse tratamento. “Temos desde artigos sobre envelhecimento, processos urbanos contemporâneos e representação artística do corpo até textos sobre astrofísica e antropologia, sempre adotando o corpo como referência”, conta João Antonio. Entre os autores, boa parte são professores da UFMG, mas também há pesquisadores de outras instituições brasileiras e do exterior.
O próximo tema já foi definido: ‘Cidades’. “Nesta primeira fase de consolidação, estamos encomendado os artigos, mas já lançamos o convite à comunidade para contribuir com textos espontâneos, que serão avaliados pelo nosso comitê editorial”, conta João Antonio.
O editor diz que, além dos artigos, haverá sempre uma entrevista. A do primeiro número foi com a artista mineira Teresinha Soares, defensora dos direitos e desejos das mulheres. A próxima será com o crítico e historiador da arte Frederico Moraes, sobre a produção de arte nas cidades e as intervenções artísticas urbanas.
A tiragem da primeira edição foi de 3 mil exemplares. Segundo João Antonio, a ideia é distribuí-la gratuitamente nas bibliotecas universitárias e públicas do país. Os interessados em conhecer a revista podem solicitar o envio à Pró-reitoria de Planejamento da UFMG; para isso basta pagar as despesas de correio.
Alicia Ivanissevich
Ciência Hoje/ RJ