A descoberta e a divulgação no campo da ciência não são atividades isoladas. A caricatura do cientista, isolado de seu tempo e de seu espaço sociais e envolvido em suas próprias descobertas secretas, pertence ao domínio da mitologia. Na melhor das hipóteses, seu fundamento de verdade pode ser encontrado em épocas e sociedades nas quais a censura e o osbcurantismo impunham limites imensos à livre investigação.
Mas, mesmo nesses casos extremos, redes e aproximações entre investigadores acabaram por se formar. Em outros termos, nem mesmo em tempos sombrios os cientistas trabalharam em solidão.
A ciência é um dos mais importantes aspectos da cultura contemporânea. Mais do que nunca, a ciência, além do talento e da iniciativa individuais, exige a existência e a viabilidade de instituições científicas permanentes. A ameaça à existência de instituições científicas é letal para a descoberta e para a difusão de conhecimento.
Tal ameaça paira hoje sobre uma das mais importantes instituições científicas brasileiras, no campo das ciências sociais: o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Criado nos anos 1960, sua história confunde-se com a das ciências sociais brasileiras, em especial no campo da ciência política e da sociologia.
Vinculado a uma universidade privada – a Universidade Candido Mendes –, o Iuperj, não obstante, ofereceu ao longo dos anos ensino gratuito de pós-graduação, tanto no mestrado quanto no doutorado. Seus cursos, segundo avaliações oficiais, estão entre os melhores nas áreas em que trabalha.
Apesar dos propósitos originais de seu criador – Candido Mendes de Almeida –, a crise da universidade à qual está vinculado inviabiliza a sobrevivência do Iuperj.
Ciência Hoje publica nesta edição uma esclarecedora entrevista com o atual diretor executivo do Iuperj, na qual são discutidas as razões da crise e as possíveis saídas. Ao fazê-lo, a CH pretende deixar claro seu apoio e sua convicção de que, sem instituições científicas fortes, as perspectivas da descoberta e da difusão da ciência são preocupantes.
Renato Lessa
Diretor-presidente do Instituto Ciência Hoje
Editorial publicado na CH 270 (maio/2010)