Cerveja e produtividade científica

(foto: Wikimedia Commons)

Essa é para o leitor que é pesquisador. Está infeliz com seu rendimento profissional, sente que sua bolsa de produtividade está ameaçada, novas linhas em seu currículo Lattes estão cada vez mais raras e as citações de seus artigos estão caindo? Pergunta: quantas garrafas de cerveja o(a) senhor(a) está bebendo por ano?

Explicando o que parece ser uma relação estapafúrdia. Thomas Grim, um ornitólogo da Universidade Palacky (República Tcheca), depois de ficar sem beber cerveja por um ano (1999), em função de uma doença, percebeu que, logo depois de sua recuperação, a qualidade de seus artigos havia melhorado muito, passando a publicá-los em revistas de prestígio internacional. Nessa época, veio-lhe à mente uma questão: como o hábito de beber cerveja afetaria a qualidade e a quantidade das publicações?

Primeiramente, fez um levantamento exaustivo e percebeu um quadro lamentável: os ornitólogos tchecos haviam publicado apenas 41 artigos em revistas internacionais nos últimos… 20 anos! (Dado relevante: a República Tcheca é o país onde mais se bebe cerveja no mundo). Depois, pesquisou a esmagadora maioria de seus colegas, bem como biólogos evolucionários, sobre a quantidade de litros da bebida consumida por ano e…

Surgiu uma associação surpreendente: o número de artigos e de citações desses trabalhos caía à medida que aumentava o número de litros/ano de cerveja. Outra mais surpreendente ainda: a relação ‘pouca produtividade/muita cerveja’ batia para o local no país onde mais se consome essa bebida, a Boêmia (200 litros/ano por pessoa), e também fazia sentido para os colegas da região na qual o consumo anual é o menor, a Morávia (50 litros/ano). Os resultados do levantamento feito por Grim foram publicados no periódico Oikos.

Obviamente, nem todos acham que a cerveja seja a destruidora de carreiras científicas. Alguns atribuíram isso ao “estilo de vida” e outros, com argumentos mais científicos, acham que beber é uma atividade social e ligada ao sexo, e isso, do ponto de vista da biologia evolucionária, tem um custo associado a ela.

Divagações à parte, parece que nem mesmo Grim levou a sério a relação que descobriu. Ele alega, à revista The Scientist, ainda beber 150 litros de cerveja por ano. 

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/RJ 

 

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