Entrada do supermercado virtual, um dos ambientes em que os pacientes treinam atividades da vida diária que requerem atenção e capacidade de concentração (A). Vista das gôndolas do supermercado (B): com uma determinada soma de dinheiro, os pacientes devem comprar itens indicados na lista de compras. Os pacientes devem exercitar noções de cálculo e planejamento para comprar os produtos necessários sem ultrapassar o orçamento (C).

Programas de computador que simulam situações cotidianas vêm sendo usados com sucesso no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para o tratamento de pacientes que sofreram lesões cerebrais graves provocadas por acidente vascular cerebral (AVC) ou traumatismo crânio-encefálico.

Inspirado em jogos como Sims e Second Life, o tratamento consiste na criação de ambientes virtuais em que os pacientes são estimulados a realizar simples tarefas do cotidiano. Dessa forma, são treinadas funções físicas e psicológicas como atenção, concentração, capacidade de compreensão, raciocínio, memória e coordenação motora – habilidades afetadas pelas doenças neurodegenerativas em questão.

O programa simula dois ambientes virtuais: uma casa e um supermercado. Com uma lista de compras e certa quantidade de dinheiro, o paciente deve comprar alguns itens no supermercado. Já na casa, ele pode acender ou apagar lâmpadas, ligar a televisão, o aparelho de som, o computador.

A neuropsicóloga Lídia Cardoso, coordenadora do projeto e do Laboratório de Neuropsicologia e Cognição da UFRJ, aponta a vantagem da utilização desse tipo de jogo: “Os programas, de uma maneira ou de outra, forçam os pacientes a ter noção de planejamento, orientação espacial, raciocínio lógico. Apesar de não haver cura, pessoas com lesões cerebrais submetidas a essa forma de terapia apresentam significativa melhora na realização das tarefas diárias, reduzindo as seqüelas resultantes das lesões e podendo até retornar ao mercado de trabalho”, diz Cardoso.

O projeto, iniciado em 2005, conta atualmente com cerca de 100 pacientes. O tratamento, que costuma durar em torno de um ano, é realizado de uma a duas vezes por semana no próprio hospital universitário, com sessões diárias de 30 minutos em média, dependendo do estado do paciente.

Níveis de dificuldade
Para selecionar aqueles que serão submetidos à terapia, é realizada uma série de exames neuropsicológicos que determinam quais foram as seqüelas sofridas e como elas podem afetar as habilidades e atividades diárias do paciente. Dependendo de cada caso, alunos do Instituto de Matemática da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) elaboram jogos com diferentes situações e níveis de dificuldade. A terapia tem início com jogos em 2D (duas dimensões) e, após um mês, evolui para jogos tridimensionais em universos virtuais.

Devido à falta de espaço e infra-estrutura, pacientes com outras doenças neurológicas, como demência e Alzheimer, por exemplo, não estão incluídos no tratamento. “A ampliação do número de pacientes e das doenças tratadas é um dos alvos do projeto para o futuro”, revela Cardoso.

Outras novidades em vista são o aumento da complexidade dos jogos e a criação de novos espaços virtuais, além da possibilidade de os jogos serem, assim como seus similares, acessados nos computadores pessoais dos pacientes. “Iniciar o tratamento de crianças também faz parte de nossos objetivos”, completa a neuropsicóloga. 

Rachel Rimas
Ciência Hoje/RJ 

 

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