Pergunta de Thiago Pinheiro, Rio de Janeiro/RJ
As escalas são estruturas básicas da construção musical. A palavra escala significa ‘escada’, e não é difícil entender essa analogia quando escutamos uma escala musical. Imagine subir uma escada, admitindo-se que os degraus possam ser baixos ou altos, igual ou desigualmente espaçados.
Diferentes culturas do mundo definiram e utilizam grande variedade de escalas musicais. Apenas na Índia, por exemplo, mais de 70 diferentes escalas, algumas muito parecidas entre si (segundo nossa limitada percepção ocidental), são empregadas em sua música clássica. Se as escalas podem ser tão variadas, as notas que as formam também não são poucas.
Na música ocidental, o sistema de escalas foi sendo adaptado e redefinido, até chegar a uma organização matematicamente mais homogênea, a chamada escala cromática igualmente temperada. Nesse sistema, as notas são igualmente espaçadas.
Assim, a relação entre o dó e o dó sustenido (no piano, a tecla preta logo acima e à direita do dó) é idêntica à relação entre o dó sustenido e o ré, entre o ré e o ré sustenido e assim por diante. No caso da escala mais difundida, a sequência dó-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó (ou escala diatônica de dó maior), as distâncias entre as notas são respectivamente de 2-2-1-2-2-2-1 ‘degraus’ cromáticos, como os referidos acima.
Quanto às notas, que correspondem aos ‘degraus’ de uma escala, elas são escolhidas de maneira arbitrária. Não há nenhuma razão para o dó ou o lá soarem do jeito que soam. Entretanto, para que os instrumentos possam tocar em conjunto, é importante a padronização das notas. Graças, sobretudo, à presença marcante do órgão de tubos nas igrejas cristãs, há mais de mil anos, estabeleceu-se progressivamente uma padronização das notas musicais que acabou adotada por bandas, orquestras e outros conjuntos instrumentais.
Atualmente, a maioria dos instrumentos do mundo tende a ser afinada no padrão do lá de 440 hertz (Hz, ou ciclos por segundo), frequência convencionada por tratados internacionais. Ainda assim, as orquestras do Brasil e de grande parte da Europa usam o lá 442 Hz como referência.
Leonardo Fuks
Escola de Música,
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Texto publicado na CH 267 (janeiro-fevereiro/2009)