Elas produzem praticamente todo o mel que consumimos, mas não são lá muito dóceis: as abelhas africanizadas têm ameaçado a saúde de parte considerável da população brasileira. De acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados no país cerca de 10 mil casos de picadas de abelhas em 2013, provocando a morte de 40 pessoas. Dado o quadro de risco, cientistas de várias instituições brasileiras desenvolveram um novo soro antiveneno para tratar pessoas atingidas. E estão prestes a iniciar os testes em humanos.

Durante o verão, é muito comum, em algumas regiões do Brasil, o aumento de ataques dessas abelhas, tanto no campo quanto na cidade. Segundo o toxinologista Rui Seabra Ferreira Jr., um dos responsáveis pela pesquisa na Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Botucatu, os ataques ocorrem como forma de defesa desses animais. “Quando nos aproximamos de seu território, as abelhas acham que ameaçamos sua cria ou o alimento estocado. Por isso, usam o ferrão para se defender”, explica Seabra. “Ao atacar, a abelha emana feromônios que atraem todo o enxame”, acrescenta.

Soro promissor

Desenvolvido a partir do próprio veneno da abelha (inoculado em cavalos cujo sistema imunológico reage produzindo anticorpos), o soro combate o envenenamento tóxico, que pode matar rapidamente. “O envenenamento ocorre quando uma pessoa leva de 100 a mais de mil ferroadas”, afirma o toxinologista da Unesp. “Nessas situações, há risco de morte e é preciso tomar providências rápidas.”

O soro combate o envenenamento tóxico, que ocorre quando uma pessoa leva de 100 a mais de mil ferroadas e pode matar rapidamente

Após o acidente, o soro deve ser administrado rapidamente por via intravenosa, o que deve ser feito por profissional de saúde treinado e em ambiente hospitalar. “É preciso ter cautela e saber diferenciar quem é alérgico de quem não é, para que sejam tomadas as medidas corretas sem prejuízos para a saúde”, alerta Seabra.

O soro protege contra a picada da espécie A. mellifera mellifera, conhecida entre os cientistas como abelha africanizada. Ela pertence ao gênero Apis e é uma espécie híbrida, resultado de cruzamentos entre abelhas-africanas e raças europeias previamente introduzidas na América.

“São aquelas que muitas vezes sobrevoam nossas latas de refrigerante”, exemplifica o pesquisador da Unesp. “Essa é a espécie predominante no Brasil e, apesar de ser importante produtora de mel e derivados, é agressiva para os seres humanos quando se sente ameaçada.”

Além do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Unesp, outras duas instituições participaram da pesquisa que deu origem ao soro: Instituto Butantan (SP) e Instituto Vital Brazil (RJ).

Apesar de promissora, a nova técnica de tratamento ainda não está disponível no mercado. Já foram feitos os testes pré-clínicos em camundongos e, agora, os cientistas aguardam aprovação para iniciar testes em humanos. “Estamos otimistas e achamos que, com sorte, os ensaios clínicos serão feitos já no segundo semestre deste ano”, espera Seabra.

Enquanto o soro não fica pronto, é preciso estar alerta para possíveis ataques de abelhas, tanto em regiões de matas quanto em zonas urbanas. “É cada vez mais comum em cidades o aumento do número de enxames, principalmente durante as estações mais quentes do ano, quando as abelhas têm mais alimento disponível”, adverte o toxinologista.

Valentina Leite
Ciência Hoje/ RJ

Texto originalmente publicado na CH 324 (abril de 2015). Clique aqui para acessar uma versão parcial da revista.

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