Em busca de novos anti-retrovirais

O HIV (pequenos pontos pretos), vírus causador da Aids, ataca células do sangue (imagem: Fiocruz)

A pesquisa brasileira deu mais um passo no combate à Aids. Um estudo coordenado pelo imunologista Dumith Chequer Bou-Habib, do Laboratório de Imunologia Clínica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), identificou um alcalóide capaz de inibir a replicação do vírus HIV, que também age da mesma forma contra a Leishmania , parasita causador da leishmaniose. A pesquisa começou em 2003 e todos os experimentos foram feitos in vitro .
 
O protozoário Leishmania tem como característica infectar os macrófagos e se multiplicar dentro dessas células, que pertencem ao sistema imunológico e têm vida relativamente longa. O HIV-1 (um subtipo do vírus da Aids) também se replica nessas células, além de infectar outras no organismo. Pessoas infectadas com os dois agentes ficam com o sistema imunológico deficiente. Estudos realizados por outros pesquisadores verificaram que, em pacientes portadores do vírus da Aids, a leishmoniose aumenta a replicação do HIV.
 
“Os linfócitos T CD4 + – outro tipo de células do sistema imunológico – morrem quando o vírus da Aids se replica em seu interior. Os macrófagos infectados, porém, sobrevivem por um período maior e, assim, tornam-se reservatórios de HIV-1, nos quais o vírus se replica continuamente”, explica o imunologista.
 
Entretanto, o coquetel de medicamentos anti-retrovirais utilizados atualmente não consegue controlar, por alguma razão ainda desconhecida, a multiplicação do vírus da Aids nos macrófagos. Mas os pesquisadores do IOC, junto com profissionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), descobriram que o alcalóide 18-methoxy-coronaridina inibe, nos macrófagos, a transcriptase reversa – enzima que trabalha na replicação do vírus da Aids.
 

Diagnóstico rápido de HIV
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou um acordo de transferência de tecnologia com uma empresa americana que permitiu ao Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) nacionalizar o teste rápido para identificação do vírus da Aids. A previsão é de que em 2007 o Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids passe a gastar US$ 500 mil com o teste; metade do valor atual. No estágio inicial atual, a Fiocruz importa os insumos e finaliza a produção no Brasil, reduzindo o custo em 20%.

O teste rápido possibilita identificar a presença do HIV em apenas dois minutos – o que é importante, sobretudo, em grávidas, porque permite realizar ações para evitar a infecção dos bebês. O acordo permite, também, que o Bio-Manguinhos adapte a tecnologia do teste rápido de HIV em exames similares para diagnosticar outras doenças, como dengue e leishmaniose.

Em parceria com professores da Universidade Federal Fluminense (UFF), os pesquisadores do IOC comprovaram também que um agente químico do grupo dos diterpenos reprime a replicação do HIV-1. Agora, os pesquisadores das três instituições pretendem verificar se esse diterpeno é capaz de controlar a replicação de ambos os agentes infecciosos em macrófagos humanos.

 

“Vamos avaliar de forma mais precisa como um agente parasitário, no caso a Leishmania , influencia a evolução da infecção pelo vírus da Aids, e vice-versa. Mas é bom lembrar que todos esses experimentos são apenas o início, um primeiro passo, para o desenvolvimento de produtos químicos potencialmente inibitórios”, alerta Bou-Habib.

Pedro Gomes Ribeiro
Especial para Ciência Hoje/RJ

 

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