Entrevista: Peter Indefrey – A língua no cérebro

 

O neurolingüista alemão Peter Indefrey, pesquisador do Instituto Max Planck para a Psicolingüística.

Sobre Peter Indefrey, bastaria dizer que ele é um dos mais respeitados neurolingüistas da atualidade e autor de vários livros e artigos sobre os processos cerebrais envolvidos na aquisição de uma segunda língua. Porém, a linha mais peculiar em seu vasto currículo – para o público brasileiro, pelo menos – é o fato de ele ter trabalhado como médico em uma pequena cidade do Espírito Santo e ter aprendido português para entender as músicas cantadas por Gal Costa.

“As pessoas de lá foram muito simpáticas, e eu vivi alguns dos melhores momentos da minha vida naquela época”, revela. Sua única decepção foi descobrir que, por aqui, bandas estrangeiras faziam mais sucesso que sua então intérprete favorita.

Doutor pela Universidade Heinrich Heine (Alemanha), Indefrey é pesquisador do Instituto Max Planck para a Psicolingüística e do Centro F. C. Donders para Neuroimagens da Cognição, ambos na Holanda.

A questão da proficiência é, no momento, um dos temas mais quentes da neurociência de aquisição da segunda língua. Um ponto de interesse desse tópico pode ser resumido na seguinte pergunta: É possível falar uma língua estrangeira com a mesma desenvoltura com se fala a primeira? Para esse neurolingüista alemão, sim. Mas a resposta está longe do consenso entre especialistas.

E ter ‘ouvido’ para a música facilita falar uma segunda língua? Quantas línguas nosso cérebro é capaz de aprender? Há uma idade-limite para se falar outra língua sem sotaque? Confira nesta entrevista exclusiva à CH a resposta para essas e outras perguntas.

Konrad Szczesniak
Faculdade de Língua Inglesa,
Universidade da Silésia (Polônia)
e Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/RJ

Como o senhor se tornou neurolingüista?
Fiz essa escolha relativamente tarde, e isso se deu devido a uma combinação de circunstâncias. Meu primeiro curso na universidade foi medicina, e, depois, trabalhei com cirurgia por algum tempo, até que me interessei pela lingüística, em função do tema da minha dissertação, que foi sobre a teoria psicanalítica dos sentidos das palavras. Então, me dei conta de que queria saber mais sobre linguagem. Assim, abandonei a cirurgia e passei a estudar lingüística e filosofia. Naquela altura, já era possível empregar neuroimagens, obtidas por PET [tomografia por emissão de pósitrons], para a análise das áreas cerebrais ativadas pela linguagem. Colin Brown e Peter Hagoort, que iniciaram um projeto de neurocognição de linguagem no Instituto Max Planck de Psicolingüística, em Nijmegen [Holanda], onde eu fazia minha tese de doutorado, pediram que eu fizesse pesquisa, empregando PET, sobre temas relativos ao projeto deles. Desistir da medicina e ir para a lingüística foi uma decisão dura, mas, nesse novo campo de pesquisa, a formação em medicina passou a ser muito útil para estudar o processamento cerebral da linguagem.

Em relação à aprendizagem de línguas estrangeiras, sabe-se que algumas pessoas têm mais dom que outras. Como isso se dá em nível neural? Os estudantes mais capacitados ativam mais áreas cerebrais relativas à linguagem ou será que é uma questão de ativar apenas as áreas corretas?
Não sabemos. Há um estudo de um colega meu, Michael Chee, de Singapura, que mostrou que alunos que apresentaram mais facilidade no estudo de chinês tinham uma ativação mais forte da ínsula, a parte do córtex envolvida na articulação e, talvez, em outros aspetos do processamento da linguagem. Mas não temos certeza se essa diferença neural é a causa ou a conseqüência da aprendizagem bem-sucedida de línguas estrangeiras. Certamente, precisaríamos de um estudo prospectivo em que os estudantes fossem submetidos a exames de neuroimagem antes de começarem o aprendizado, para compararmos esses dados mais tarde. Esse tipo de estudo ainda não foi feito por razões óbvias: quem tem tempo de ficar 10 anos esperando pelos resultados?

 

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