Foi o interesse pela comunicação que despertou em Luiz Davidovich, um dos mais renomados físicos do país, a paixão pelo mundo quântico. Conforme conta em entrevista à CH, o físico era ainda um adolescente quando resolveu fazer um curso de rádio e TV, que lhe instigou a estudar mais a fundo a natureza física e seus fenômenos.
Hoje, por coincidência ou não, o principal campo de estudo de Davidovich é justamente a informação quântica, que visa processar, armazenar e transmitir computacionalmente dados usando sistemas quânticos.
Como não poderia deixar de ser, o físico frequentemente divulga para o público a sua querida física quântica. As surpresas e aplicações dessa área do conhecimento foram o tema de sua mais recente palestra, no ciclo Ciência às Seis e Meia do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) – ocasião que aproveitamos para conversar com Davidovich e trazer esse vídeo para vocês.
Davidovich foi um dos primeiros cientistas no mundo a propor um experimento para demonstrar o teletransporte, ou teletransportação, como prefere dizer. Atualmente, a experiência já foi feita milhares de vezes: um único fóton é transmitido à distância.
Parece coisa de ficção científica. No entanto, no teletransporte quântico, a matéria não se desloca de um lugar para outro instantaneamente, o que é transportada é a informação sobre a partícula. Com os dados sobre uma partícula, transmitidos com rapidez dentro dos limites impostos pela velocidade da luz, é possível ‘recriá-la’ em outro lugar.
Essa possibilidade de controlar e transmitir informações sobre uma partícula, geralmente um fóton, pode ser usada para passar mensagens em código, criptografadas. As mensagens, em vez de serem escritas com letras, por exemplo, são transmitidas por fótons teletransportados que representam um código binário.
Outra futura aplicação da física quântica na comunicação, também bastante estudada por Davidovich e abordada em nossa entrevista, são os computadores quânticos. Essas máquinas se usariam do fenômeno quântico chamado emaranhamento para funcionar muito mais rapidamente que os computadores normais.
Em seu laboratório na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Davidovich estuda esse estranho fenômeno, pelo qual duas partículas se ligam ‘fantasmagoricamente’, formando um só sistema, de modo que as informações e características de cada uma delas deixam de ser individuais e passam a ser compartilhadas.
Os cientistas podem se aproveitar do emaranhamento para criar computadores que em vez de usarem somente 0 e 1 para processar informações, usem também a sobreposição dos dois valores.
Como Davidovich conta na entrevista, as aplicações da física quântica na comunicação, e também fora dela, são inúmeras e inimagináveis. Quer dizer, algumas são imaginadas e fantasiadas até demais, como as viagens no tempo, tema do artigo de capa da CH atual, 290, e também discutida por Davidovich nessa vídeoentrevista.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje/RJ