O Ginkgo biloba é uma das plantas medicinais mais comercializadas atualmente no mundo. É apontado como benéfico no tratamento de muitos problemas de saúde, mas as informações divulgadas sobre seus efeitos terapêuticos são em geral exageradas e sem base científica.
Na verdade, pesquisas relatam com frequência efeitos adversos quando são utilizadas partes da planta fresca ou seca, que não passaram por um processo de remoção de substâncias tóxicas existentes na espécie. Não é recomendado o consumo do G. biloba fresco ou seco, na forma de chás ou em contato direto com a pele, devido à presença de substâncias capazes de provocar alergias ou reações tóxicas para o sistema nervoso.
As plantas medicinais e os medicamentos fitoterápicos são utilizados em todo o mundo por apresentarem ação terapêutica contra variados problemas de saúde, mas são equivocadamente considerados de baixo risco de toxicidade. Tanto as plantas (folhas, cascas e outras partes, usadas ao natural, secas ou trituradas, ou em emplastos e chás caseiros) quanto os medicamentos industriais obtidos destas (os fitoterápicos) podem conter substâncias que exercem efeitos colaterais indesejáveis, do mesmo modo que os remédios compostos de substâncias sintéticas.
O Ginkgo biloba é a única espécie ainda existente da família Ginkgoaceae, e por isso tem sido chamada de ‘fóssil vivo’ – há estruturas fossilizadas de ancestrais do gênero Ginkgo, semelhantes à espécie atual, com até 170 milhões de anos. Por apresentar propriedades terapêuticas, é uma das plantas mais empregadas em remédios caseiros ou em fitoterápicos em todo o mundo.
Seu uso medicinal é milenar: registros chineses revelam que desde 2.800 a.C. a planta era usada na medicina tradicional do país, em especial para o tratamento de doenças respiratórias. Atualmente, suas folhas secas têm sido comercializadas indiscriminadamente e indicadas para o tratamento de distúrbios de memória e utilizadas por muitas pessoas por meio da automedicação, o que traz muitos riscos.
As principais indicações terapêuticas para os extratos de G. biloba são o tratamento de deficiências na cognição (em particular falhas de memória e dificuldade de concentração), depressão, vertigens, zumbidos no ouvido, dor de cabeça e síndromes de demência. Também são indicados para o combate à doença arterial periférica oclusiva Fontaine estágio II (claudicação intermitente), que compromete o desempenho físico dos pacientes, levando a dificuldades para caminhar. Outras recomendações incluem casos de asma, impotência sexual, alergias e síndrome pré-menstrual.
Para os extratos de G. biloba produzidos de maneira correta, com a eliminação das substâncias tóxicas, o uso geralmente não tem contraindicações. Os efeitos adversos são muito raros, mas em alguns casos podem ocorrer irritações gástricas leves, diarreia, flatulência, náusea, vômito, dor de cabeça, sangramento e reações alérgicas cutâneas por contato. Mesmo sem contraindicações, o uso de preparações à base de G. biloba deve ser evitado por pacientes com histórico de hipersensiblidade, crianças e grávidas.
Produtos à base de G. biloba podem ser encontrados nas farmácias em diversas apresentações: cápsulas, comprimidos, aerossóis sublinguais e tinturas, preparados a partir de extratos secos ou fluidos. Há também algumas preparações para uso na pele desenvolvidas a partir das folhas e indicadas para tratamento antienvelhecimento e como protetor solar.
Entretanto, a maioria dos fitoterápicos produzidos com essa planta é constituída por um extrato padronizado das folhas, obtido por meio de processos que envolvem várias etapas, as quais, ao final, concentram os componentes ativos e removem parte das substâncias potencialmente tóxicas.
Leopoldo C. Baratto
Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas,
Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná
Juliana C. Rodighero
Curso de Especialização em Ciências Farmacêutricas,
Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná
Cid Aimbiré de Moraes Santos
Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná