[Pergunta de Luiz E. Vasconcelos, Rio de Janeiro/RJ]
Assim diz a lenda. Mito ou verdade, essa pergunta se repete por séculos e séculos. Desde a Antiguidade até os dias atuais são muitos os relatos de pessoas que teriam sido salvas em situação de naufrágio. Na Grécia antiga, um golfinho salvou o poeta Arion do afogamento e o levou em segurança até uma praia ao sul da Península de Peloponeso. Por essa razão, é famosa a estátua de Arion cavalgando um golfinho.
Pelos quatro cantos do mundo, assim como o povo do Laos, país do sudeste asiático, e também para os ribeirinhos amazônicos, os golfinhos ou botos podem ajudar a salvar náufragos em mar aberto ou nos rios.
Para alimentar ainda mais essa história, duas situações muito recentes sustentam a dramaticidade desses relatos. Uma baleia beluga salvou uma mergulhadora que se afogava em situação de hipotermia em Harbin, China, e, na Califórnia, Estados Unidos, surfistas foram salvos por golfinhos que afugentaram um grupo de tubarões que os atemorizava.
O fato é que os cetáceos exibem comportamento altruísta recíproco, ou seja, cooperam entre si para a caça e mesmo em momentos de apuro. Isso poderia explicar os diversos casos notáveis de cooperação intraespecíficas em cetáceos quando em situação de risco, também conhecido como comportamento epimelético. Toninhas, botos e golfinhos podem carregar seus parentes ou indivíduos do mesmo grupo mesmo quando já estão mortos. São muitos os casos de golfinhos que viajam por horas ou dias sustentando o corpo de outro golfinho.
No Brasil esse comportamento já foi observado entre toninhas, botos-cinza, golfinhos-nariz-de-garrafa e golfinhos-de-dentes-rugosos. Mas isso pode nos levar a crer que os golfinhos possivelmente tratem os humanos como alguém da sua própria espécie. Dessa forma, podemos acreditar que a lenda está muito próxima da realidade.
Salvatore Siciliano
Oceanites/Projeto de Monitoramento de Aves, Quelônios e Mamíferos Marinhos da Bacia de Campos
Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz
Texto publicado na CH 266 (dezembro/2009)