Ciência Hoje/RJ

Lantânio, cério, neodímio, európio, térbio, túlio, lutécio, samário. O leitor pode até não conhecer esses elementos, mas, muito provavelmente, depende deles no seu dia a dia. Não só o leitor como todo o mundo. Conhecidos como terras raras, eles integram um grupo de 17 elementos indispensáveis na atual indústria de alta tecnologia. Motores elétricos, turbinas eólicas, superímãs, telefones inteligentes, computadores, tablets, lâmpadas de LED e fluorescentes, mísseis e muitos outros produtos levam terras raras em sua fabricação.

Hoje, a China detém as maiores reservas conhecidas de terras raras, cerca de 36 milhões de toneladas, e controla 95% da produção mundial – um verdadeiro monopólio

Não é à toa que esses elementos são alvo de uma competição internacional, semelhante à velha corrida pelo ouro, que pode ter o Brasil como um de seus concorrentes. Hoje, a China detém as maiores reservas conhecidas de terras raras, cerca de 36 milhões de toneladas, e controla 95% da produção mundial – um verdadeiro monopólio. Sua principal mina, Bayan-Obo, na Mongólia, produz em torno de 120 mil toneladas de elementos de terras raras por ano. Estados Unidos e Austrália vêm logo atrás, com 6,4% e 3,6% da produção mundial, respectivamente. O Brasil nem entra nessa lista. Apesar de ter reservas conhecidas desde o final da década de 1940, não há produção industrial de terras raras por aqui.

Mas esse cenário pode estar prestes a mudar. Somada à pressão econômica mundial, está a recente descoberta de enormes reservas de terras raras em Araxá (MG). Este ano, a Companhia Brasileira de Mineração e Metalurgia (CBMM), do grupo Moreira Salles, enviou um laudo técnico ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) confirmando a existência de 22 milhões de toneladas de terras raras em uma mina de nióbio da empresa. Até então, o total lavrável de terras raras conhecido no Brasil não passava de 40 mil toneladas. A descoberta, oficialmente reconhecida pelo órgão em novembro último, coloca o Brasil em segundo na lista das maiores reservas mundiais.

Reservas no país

Além de Minas Gerais, há terras raras em vários estados brasileiros, em especial Goiás e Amazonas. Mas essas reservas ainda não foram medidas e seu tamanho pode estar subestimado. “Já há pesquisas sendo feitas na mina de fosfato de Catalão (GO), onde se estima que as reservas de terras raras superem as da China”, alerta Romualdo Andrade, geólogo do DNPM. “Há prospecções em outras áreas promissoras no norte goiano, onde fica a Minasul, da empresa Serra Verde de mineração. É provável que tenhamos mais surpresas pela frente.”

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As aplicações das terras raras são as mais variadas: de motores elétricos híbridos e catalisadores a turbinas eólicas, telas de LCD e trilhos para trens de levitação magnética. (imagem: Luiz Baltar)

Desde 2011, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) – antigo Serviço Geológico do Brasil – faz um mapeamento das potenciais reservas de terras raras no Brasil como parte das ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O levantamento, orçado em R$ 44,4 milhões e com fim previsto para 2014, não aponta o local exato das reservas nem seu tamanho, mas apenas a chance de sua existência a partir da análise de vestígios de minerais em sedimentos de rios. Já foram identificadas potenciais reservas de terras raras em locais até então ignorados, como Roraima.

“Até hoje, o potencial de terras raras do Brasil não era bem conhecido e foi pouco explorado”, diz o geólogo Roberto Ventura, diretor de Geologia e Recursos Minerais do CPRM. “Nosso mapeamento tem mostrado muitas ocorrências, de vários tipos de terras raras, incluindo as chamadas pesadas, que, por serem mais raras e muito usadas em produtos de tecnologia, têm valor de mercado mais alto.”

Nem tão raras

A exorbitância das reservas internacionais e nacionais põe em xeque o próprio nome dado a esses elementos. As terras raras não são terras, nem são tão raras: sua abundância é maior que a de minerais de prestígio, como o ouro. No entanto, não há jazidas exclusivas desses elementos. Eles sempre ocorrem com outros de seu grupo, em geral em baixas concentrações, e associados a outros minérios (como monazita, bastnasita e xenotima), o que torna sua extração complexa.

Andrade: “O monopólio da China não é sobre os recursos, é um monopólio dos processos”

Somente a China tem o domínio completo das várias etapas da cadeia produtiva de terras raras – da mineração até a obtenção de um produto que possa ser utilizado pela indústria. Lavrados os minérios, é preciso separar os elementos de terras raras. Esse processo envolve reações químicas intensas com o uso de ácidos. Em seguida, os elementos são transformados de óxidos em metais e, então, misturados com outros materiais para formar ligas metálicas que podem ser trabalhadas de diferentes maneiras, dependendo do produto final. “O monopólio da China não é sobre os recursos, é um monopólio dos processos”, comenta Andrade. “O país tem tecnologia de ponta na mineração e no beneficiamento e sabe como usar as terras raras em produtos de alta tecnologia.”

China começou sua produção industrial de terras raras na década de 1950. No mesmo período, o Brasil se lançou nesse mercado com o óxido de európio obtido a partir das areias monazíticas, encontradas no litoral da Bahia, do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. A substância chegou a ser exportada para os Estados Unidos para aplicações militares. Hoje, essas reservas estão esgotadas e a produção de terras raras, por parte da estatal Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), cessou em 2006.

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Sofia Moutinho
Ciência Hoje/ RJ

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