Quem pode ser contra o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira, não é? Eu ficaria feliz se fosse ministrado por professores estudiosos do assunto. Mas não é disso que trata a iniciativa, infelizmente.
Ela não tem a finalidade de ensinar história, mas de reeducar os nossos jovens na gramática da ideologia racialista. O propósito é suscitar entre eles uma consciência de pertencimento a uma raça e a soberba do orgulho racial.
Se vocês pensam que exagero, leiam o parecer do Conselho Nacional de Educação, do Ministério da Educação (parecer CNE/CP003/2004), que aprovou a criação da disciplina. É uma resolução oficial, está disponível na internet.
Confessadamente, a iniciativa não visa ao aprimoramento cultural e científico dos alunos, mas faz parte de uma suposta demanda de supostos afro-descendentes por políticas de reparação.
Quer reeducar nossa juventude, ensinando que “a sociedade é formada por pessoas que pertencem a grupos étnico-raciais distintos” e disseminando “atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial”.
Para tanto, pretende recorrer a uma pedagogia do constrangimento, fazendo “emergir dores e medos que têm sido gerados” entre brancos e negros desde os tempos coloniais até os dias de hoje.
O parecer diz também que a escola deve alertar a todos “a respeito de equívocos quanto a uma identidade humana universal”. É preciso dizer mais? Vai dar certo? Não, não vai.
Mais um equívoco racialista
A ideologia racialista tem colecionado imensos fracassos no Brasil. Quase tantos quanto sinecuras na administração pública. Com o mesmo propósito de nos reeducar racialmente, a militância racialista conseguiu instituir cotas raciais no acesso ao ensino superior.
Dou aulas na primeira universidade pública a instituir o sistema – a Universidade do Estado do Rio de Janeiro – e não conheço um só caso de aluno cotista que tenha trocado a herança familiar que valoriza a igualdade entre todos os brasileiros por uma identidade racial, ‘negra’.
Os negros continuaram a ser os de epiderme preta e chamados, carinhosamente, de “negões”. O resto, a maior parte, nem se preocupou com o assunto. Nossos alunos fazem um cálculo racional sobre as chances de ingresso na universidade e ignoram quaisquer considerações morais decorrentes. A iniciativa certamente não contribui para o aprimoramento moral da garotada, mas também não a faz racista.
O ensino de história da África e da cultura afro-brasileira estará entregue aos professores da nossa rede escolar que, como os demais brasileiros, nutrem uma saudável, inteligente e bondosa desconfiança acerca da utilidade da ideia de raça na explicação do mundo e no modo de se comportar nele.
Evidentemente, os mais expostos à ideologia racialista vão aproveitar a oportunidade para colocar em prática os desígnios obscurantistas do Ministério da Educação (outro dia vi, num telejornal, que uma escola do Rio de Janeiro estava promovendo uma atividade chamada “a cor da cultura”), mas a maior parte vai procurar fazer o melhor possível, do jeito que sabe, com o insatisfatório salário que tem.
O Ministério da Educação devia estar ocupado em melhorar radicalmente a nossa escola pública, pavimentando o caminho para a igualdade de oportunidades entre todos os brasileiros, sem olhar para a cor das pessoas.
José Roberto Pinto de Góes
Departamento de Ciências Humanas
Universidade do Estado do Rio de Janeiro