Os impactos ambientais causados por inseticidas muito utilizados em cultivos agrícolas no Brasil (Sevin, Folisuper 600 e Decis) costumam passar despercebidos pelo fato de os compostos químicos desses produtos (respectivamente carbaril, metil paration e deltametrina) serem muito voláteis e não serem detectados por análises químicas da água.
Mas estudo feito pela bióloga Izonete Guiloski durante a elaboração de sua dissertação de mestrado, defendida no Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Paraná, mostrou os danos causados por esses agrotóxicos em duas espécies de peixes nativos do Sul do Brasil, Uruguai e Paraguai: Corydoras paleatus, conhecido como cascudinho, e Hipostomus commersoni, o cascudo.
“Esses peixes são muito resistentes e quando eles se tornam frágeis é porque o ambiente em que vivem está extremamente contaminado”, conta Guiloski. Experimentos in vivo com tecidos do cascudinho revelaram inibição da enzima acetilcolinesterase do cérebro e que a espécie, muito sensível aos compostos Folisuper 600 e Sevin, pode sofrer alterações em sua função motora. Já testes in vitro em células hepáticas do cascudo indicaram que o Folisuper 600 induz a atividade da enzima catalase, responsável pela defesa antioxidante dos peixes.
Quando há uma mortandade de peixes, é comum que se aponte a falta de oxigênio na água como causa do problema. “Mas o desequilíbrio pode ter sido provocado por pesticidas”, alerta a bióloga. Os resultados de seu trabalho foram enviados ao Instituto Ambiental do Paraná e deverão constar de um banco de dados a ser utilizado na elaboração da nova legislação ambiental do estado.
Juliana Blume
Especial para a Ciência Hoje / PR
Texto publicado na CH 265 (novembro/2009)