Sejamos realistas: drogas que prometem o emagrecimento abundam no noticiário sobre ciência – não estão inclusas aqui as farsas que enganam consumidores incautos, vendidas por empresas suspeitas ou expostas nas prateleiras das farmácias, produtos ‘miraculosos’ marcados pela falta de comprovação científica e pelo excesso de efeitos colaterais (por vezes, perigosos). Estamos falando de substâncias testadas por pesquisadores sérios e que brotam de experimentos bem feitos. Mais uma dessas promessas acaba de aparecer. E por que se deve torcer por essa? Resposta: continue lendo esta nota.
Do começo. A leptina, hormônio produzido pelo corpo, age como supressor de apetite. Ao ser descoberta, virou alvo de pesquisa (séria), visando entender os mecanismos da obesidade. O mercado viu aí oportunidade de fazer dinheiro fácil e lançou suplementos à base dessa substância. Fato: a ingestão de leptina não tem mostrado capacidade de emagrecer. Possível razão: o organismo parece insensível ao hormônio, não respondendo à presença dele.
No entanto, pesquisas indicam que certas proteínas (os chamados receptores de canabinoides do tipo 1) têm algo a ver com essa insensibilidade. Esses receptores estão ligados àquela sensação de fome depois de se fumar maconha – vale lembrar que o princípio ativo da maconha é o tetraidrocanabinol. Surgiu, então, a ideia de bloquear a ação desses receptores, em vez de dar ao corpo excesso de leptina. Isso poderia se mostrar eficaz em manter a perda de peso em longo prazo.
A história continua.
Efeitos colaterais
Em 2006, apareceu, no mercado europeu, droga que bloqueava os receptores de canabinoides: rimonabante. Grande esperança. Em poucos anos, enorme perigo: ansiedade, depressão, ideias suicidas… Foi retirada do mercado.
Mas a ciência aprende (muito) com as falhas. Do caso do rimonabante, surgiu a ideia de achar substância que não penetrasse o cérebro, mas que tivesse, como alvo, os receptores de canabinoides, bloqueando sua ação. Uma dessas drogas foi obtida pela equipe de George Kunos, do Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo (EUA). Não penetrava tanto o cérebro… mas também não era tão eficiente quanto o rimonabante para fazer perder peso.
Agora, a equipe de Kunos encontrou a droga que tem obtido marcas ‘olímpicas’ nos testes: não penetra o cérebro, melhora a saúde metabólica, faz o corpo voltar a ser sensível à leptina e… não tem os efeitos colaterais das drogas de emagrecimento (ansiedade e outros). Entendeu, leitor(a), por que se deve acreditar nessa nova promessa?
O melhor dos mundos será quando a JD5037 (sigla da nova droga), apresentada no periódico Cell Metabolism, mostrar esses efeitos em humanos. Por enquanto, mostrou suas qualidades só em camundongos. E vale aqui repetir: do roedor aos humanos, há uma longa estrada, tortuosa, cheia de buracos duvidosos e obstáculos que fornecem decepções profundas.
Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ
Texto originalmente publicado na CH 296 (setembro de 2012).