Quando um raio cai no mar, por que algumas espécies marinhas não morrem, já que a carga é da ordem de megawatts e a água tem íons suficientes para transportá-la?

O efeito destrutivo da eletricidade está associado à intensidade da corrente que flui pelo corpo da vítima. O que provoca o fluxo da corrente é justamente a diferença de potencial que existe nas diversas partes de seu corpo. Mas o valor do potencial elétrico em si não é um perigo. É por isso que um pássaro pousa sobre um fio de alta tensão sem nada sofrer. Embora o potencial do fio seja elevado, não há diferença de potencial entre as pernas da ave (posicionadas sobre o mesmo condutor) para gerar fluxo de corrente em seu organismo.

Assim, quando uma descarga atmosférica atinge o mar, a corrente é injetada na água e há grande elevação de potencial no ponto de incidência, onde a corrente está concentrada. Os seres vivos (eventuais nadadores, inclusive) que estiverem próximos desse ponto correm sério risco, podendo até morrer, já que a distribuição de potenciais na região é capaz de submeter o corpo da vítima a correntes intensas que podem causar paradas cardíacas e respiratórias. Mas, à medida que se afasta do ponto de incidência, a densidade de corrente diminui muito rapidamente (com o quadrado da distância) e, também, o potencial elétrico.

Vale lembrar que os seres vivos suportam diferentes níveis de corrente elétrica. Assim, uma mesma corrente pode matar um indivíduo e não causar efeitos tão lesivos em outros.

Silvério Visacro Filho
Centro de Pesquisas sobre Raios,
Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais
e Companhia Energética de Minas Gerais

 


Veja as outras dúvidas dos leitores na mesma edição:
– O que são triglicerídeos? O que podemos fazer para combatê-los?  
– O que é dislalia e qual a causa desse distúrbio? Há algum exercício para corrigi-lo?
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