Foram anos de controvérsia. E um dos motivos era o seguinte: se o resultado for positivo, quem dará apoio psicológico à pessoa que acabou de se submeter ao teste? E se ele fizer bobagem, como tentar se matar? Exagero?

Reportagem do New York Times relata que o clima era mais ou menos esse no início da epidemia de Aids, na década de 1980. A mídia disseminava casos de pessoas que se suicidavam depois de saber que eram soropositivas. Na época, temia-se ser estigmatizado como homossexual ou usuário de droga injetável.

No início, as maiores vítimas, nos EUA, diz o jornal, eram do grupo dos quatro ‘H’: hemofílicos, heroína (usuários de) e haitianos, seguidos por homossexuais masculinos.

Se o portador iniciar o uso do coquetel contra a Aids logo após ser infectado, as chances são de mais ou menos 95% de que não transmita o vírus para outros

À época, governo e entidades de grupo de risco achavam que um teste caseiro poderia levar a onda de suicídios pelo país. Agora, após quase sete anos de análise, o FDA (órgão que regulamenta medicamentos e alimentos nos EUA) liberou teste para venda em farmácias.

O procedimento é rápido e simples: basta colher material da gengiva, esfregando-a com um tipo de cotonete, para, de 20 a 40 minutos depois, obter o resultado.

Por que isso é bom? Se o portador iniciar o uso do coquetel contra a Aids logo após ser infectado, as chances são de mais ou menos 95% de que não transmita o vírus para outros. Além disso, o prognóstico dele é também bem melhor quando o tratamento começa cedo.

Mais: hoje, com as drogas disponíveis, Aids não é mais sentença de morte. É uma doença que, como o diabetes, tem que ser controlada.

Os ‘poréns’

O teste – de nome comercial OraQuick – é preciso. Mas tem lá seus reveses. Uma em cada 12 pessoas pode ter um falso negativo. As chances de falso positivo são bem menores, sendo um para cerca de 5 mil pessoas.

Mas o maior problema, porém, é a chamada ‘janela temporal’. Explicando: uma pessoa leva cerca de três meses para desenvolver anticorpos para a Aids – e são esses anticorpos que são detectados no teste agora aprovado. Portanto, será preciso conviver com esse torturante período de dúvida. Nesse caso, o melhor é mesmo procurar ajuda de um profissional ou centro de tratamento, para aconselhamento sobre a melhor estratégia a adotar.

O teste é só um primeiro passo para o diagnóstico

Outra coisa importante: o teste é só um primeiro passo para o diagnóstico. Ou seja, se der positivo, a pessoa terá que necessariamente confirmar o resultado com teste de maior precisão, feito apenas por médicos ou em hospitais.

Nos EUA, o teste estará disponível no final deste ano, em dezenas de milhares de farmácias, bem como lojas de conveniência e vendas on-line. No Brasil, seu uso está restrito à comunidade médica.

A fabricante não revelou ainda o preço, mas disse que sairá por pouco mais que 17,50 dólares (cerca de R$ 35), valor com que é vendido para consultórios médicos. A empresa alega que, para a versão vendida ao público, as despesas com embalagem e outros serviços elevarão esse valor.

Por lá, menores de 17 anos não poderão comprá-lo. Motivo: pouquíssimos adolescentes entre 14 e 17 anos foram testados na fase de avaliação do kit. A contradição apontada pelo jornal: meninas não precisam apresentar identidade para comprar testes de gravidez. A saída, em qualquer parte do mundo, é conhecida: pedir a um adulto que compre o teste.

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ

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