Quando e como os primeiros seres humanos chegaram às Américas? Por algumas décadas, a resposta parecia relativamente simples. Os ancestrais dos nativos americanos teriam cruzado a Beríngia, uma ponte de terra temporária entre a Sibéria e o Alasca, há cerca de 15 mil anos e, a partir daí, se dispersado pelo continente. A principal evidência vinha de uma infinidade de pedras lascadas em forma de pontas de lança, oriundas de sítios da cultura Clóvis, nomeada em referência à cidade estadunidense onde as primeiras descobertas foram feitas, em 1932.

Espalhados pelos Estados Unidos, os sítios de Clóvis têm idade aproximada de 13 mil anos. Mas, já faz um tempo que outros sítios arqueológicos têm contrariado a hipótese da ‘primazia de Clóvis’ (Clovis first), como ficou conhecida. Admirável novo mundo: uma história da ocupação humana nas Américas nos conta sobre a ascensão e queda da primazia de Clóvis e vai muito além, ao longo de 500 páginas e 22 capítulos.

O paradigma da primazia de Clóvis foi sendo abalado pela descoberta de sítios mais antigos, especialmente Monte Verde, no Chile. Lá, foram preservados até pedaços de carne e plantas usados como alimento e medicamento, após uma aparente rápida inundação, mais de 14 mil anos atrás, ou seja, um milênio antes dos achados de Clóvis.

Bernardo Esteves traz detalhes sobre as descobertas em Monte Verde e como arqueólogos chegaram a um consenso, apenas em 1997, sobre sua datação. Outros sítios com mais de 13 mil anos também são tratados no livro, como Huaca Prieta, no Peru, Chiquihuite, no México, e Paisley Caves, nos Estados Unidos.