Para os mais entusiastas, ela resolverá as mazelas sociais e ambientais da humanidade. Para os pessimistas, trata-se da mola impulsionadora para uma terrível hecatombe. Para os cientistas, é uma nova e fascinante fronteira de pesquisa. Para algumas empresas, constitui a possibilidade de lucros imensos num mercado emergente; para outras, uma incógnita não apenas nas reais possibilidades de lucros, mas também na ausência de regulamentação apropriada. Já o governo a considera uma área estratégica fundamental para a competitividade do país no futuro. Ao cidadão comum, talvez pareça uma cena de ficção científica que saltou das telas de cinema para um mundo invisível que dizem já estar à espreita na esquina.
É dentro dessa perspectiva de vozes dissonantes sobre a nanotecnologia que este livro se insere, buscando proporcionar ao público geral um panorama atual de seu desenvolvimento no Brasil e no mundo.
Após um sobrevoo sobre momentos marcantes da nanociência, onde são mostrados exemplos de estruturas nanométricas na natureza e na tecnologia de culturas ancestrais, a obra passa por alguns dos principais nomes ligados a esse campo e suas produções intelectuais.
A partir daí, é mostrado como alguns futurologistas concebem a inserção da nanotecnologia nos meios de produção e os passos do governo brasileiro até o momento para fomentar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico nesse setor.
São apresentados modelos de aplicação da nanotecnologia em setores industriais consolidados no Brasil, demonstrando as potencialidades mais imediatas para a nossa sociedade.
Justamente nesse encontro com as capacidades do parque industrial brasileiro é apresentado o programa Sesi-SP e Senai-SP para educação em nanociência e nanotecnologia. Com uma estrutura laboratorial voltada para a pesquisa e desenvolvimento da indústria, o programa concentra-se na formação de multiplicadores em suas várias unidades e oferece uma escola móvel para divulgação científica e tecnológica.
No final do livro, a questão dos riscos relacionados a uma indústria nano é brevemente tratada, resumindo as discussões recentes sobre o tema no Brasil.
Talvez, no plano internacional, tenha faltado tratar do trabalho de normalização em nanotecnologia empreendido sob a coordenação da ISO (International Organization for Standardization), motivado pela necessidade de balizamento técnico nas crescentes relações comerciais no setor. São merecedores de elogios a lista crítica de páginas na internet e de publicações na área nano disponibilizada, assim como o glossário de termos técnicos fornecido em anexo.
Trata-se de obra muito interessante para todos aqueles que queiram saber mais sobre esse fascinante campo do conhecimento, sobre como se realiza a passagem da ficção científica ao uso concreto das tecnologias e sobre como esse processo é impulsionado pela criação de utopias e temores.
André Luiz Pinto
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
Texto originalmente publicado na CH 312 (março de 2014).