De que forma os microrganismos podem ajudar na purificação da água?

As comunidades urbanas, as indústrias e atividades agrícolas produzem grandes quantidades de esgoto e resíduos químicos. Esses resíduos, quando lançados sem tratamento nos ambientes aquáticos, provocam a poluição. Os microrganismos purificam a água através de processos naturais de reciclagem da matéria orgânica, conseguindo degradar os compostos naturais. Entretanto, a biodegradação pode não ocorrer com a rapidez necessária e os ambientes aquáticos tornam-se anaeróbios (reduzido teor de oxigênio dissolvido) passando a exalar cheiro desagradável, com formação de gás sulfídrico e de outros produtos da atividade microbiana. Quando isso acontece, a fauna, a flora e a microbiota desses ambientes são afetados, podendo resultar na mortandade de peixes.
O tratamento de esgotos e efluentes é fundamental para reduzir a poluição aquática. Os microrganismos desempenham um papel importante nos processos de purificação da água, seja no ambiente natural, seja através de processos otimizados pelo homem, como estações de tratamento de esgoto. Os microrganismos executam reações enzimáticas, que constituem etapas imprescindíveis na ciclagem dos elementos na natureza.
Dois tipos de processos microbianos podem ser usados para a remoção da matéria orgânica da água contaminada: o anaeróbico de fermentação, realizado por bactérias anaeróbicas e facultativas, e o aeróbico, feito pelos microrganismos aeróbios que promovem a oxidação da matéria orgânica através da respiração. A digestão anaeróbica da matéria orgânica gera vários produtos metabólicos incluindo o acetato e gases (hidrogênio, gás carbônico e metano). O processo aeróbio necessita de grande suprimento de oxigênio para que os microrganismos possam degradar a matéria orgânica em gás carbônico, água e compostos minerais.
Esses processos, isolados ou combinados, representam a fase biológica do tratamento de esgoto, denominada etapa secundária. O tratamento primário consiste basicamente em sedimentação do esgoto para remoção de resíduos sólidos. O efluente do tratamento secundário ainda pode conter íons de fosfato e nitrato, que são removidos quimicamente na terceira etapa. O efluente final de um processo adequado de tratamento de esgoto possui concentração baixa de matéria orgânica e de nutrientes podendo ser lançado nos rios, lagos e oceanos sem causar impactos significativos ao meio ambiente.

O tratamento de água destinada ao consumo humano inclui as etapas de floculação química, sedimentação de sólidos, clarificação via filtração e finalmente desinfecção (através da cloração, por exemplo). Esta ultima fase visa à remoção dos microrganismos patogênicos. Dependendo do uso da água, o controle de qualidade é definido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) através de valores-padrão que estabelecem os limites máximos aceitáveis para as características físicas, químicas e microbiológicas da água.

Leda Cristina Mendonça Hagler
Departamento de Microbiologia Geral,
Instituto de Microbiologia Professor Paulo Góes,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

 

 

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