O estresse atinge sobretudo populações de grandes cidades, mas não apenas: chegou também às granjas. Para cuidar de codornas, pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Jaboticabal (SP), estudam como fitoterápicos comumente usados por humanos podem aliviar o sofrimento desses animais.
O calor e as condições de vida nas granjas, onde várias codornas compartilham uma mesma gaiola, causam agitação e nervosismo nas aves. O comportamento inquieto faz o animal utilizar o bico para provocar ferimentos em si mesmo ou nas companheiras, principalmente na cabeça.
“Essa observação nos levou a buscar alguma coisa que pudesse amenizar tantos ferimentos e dor, assim como tamanha agressividade”, conta a zootecnista da Unesp Vera Maria Barbosa de Moraes.
O estresse ainda pode causar aumento da mortalidade entre codornas e queda na produção de ovos, reduzindo a lucratividade de criadores. Muitas vezes, os animais apresentam imobilidade tônica — quando ficam imóveis como se estivessem congelados — e podem até cair em depressão.
Diversas substâncias testadas
Na primeira tentativa de ajudar as codornas a combater o estresse, os pesquisadores realizaram um estudo sobre a ação do triptofano nas aves. Esse aminoácido está relacionado ao aumento da serotonina, neurotransmissor que tem efeito direto na sensação de bem-estar. No entanto, constatou-se que ele não era eficaz na diminuição da agressividade dos animais.
Foi aí que os pesquisadores tiveram a ideia de estudar calmantes e ansiolíticos naturais que tivessem ação segura já comprovada em outras espécies, como ratos e humanos.
“Analisando trabalhos feitos com vários fitoterápicos, observamos que a passiflora, a camomila e a valeriana surtiam os efeitos que estávamos buscando para as aves”, explica a zootecnista.
As codornas estressadas foram submetidas a diferentes tratamentos baseados em cada um dos fitoterápicos. Durante o período em que receberam a medicação, elas foram filmadas para que os pesquisadores pudessem analisar posteriormente o comportamento das aves.
A partir da avaliação das respostas comportamentais e fisiológicas — níveis de hormônio e células sanguíneas relacionados ao estresse —, a equipe concluiu que a passiflora foi o fitoterápico que apresentou ação mais eficaz, em comparação à camomila e à valeriana.
Além de reduzir a agressividade, proporcionando mais conforto e qualidade de vida aos animais, a passiflora não afetou a produção de ovos.
Agora que os pesquisadores já conhecem a ação isolada dos fitoterápicos sobre o organismo das codornas, as próximas etapas do estudo buscarão investigar o efeito conjunto dessas três plantas. “A literatura mostra que existe efeito sinérgico desses fitoterápicos sobre ratos e humanos, mas nada se sabe ainda sobre a resposta desses três no comportamento das codornas”, diz Vera Moraes.
Camila Muniz
Ciência Hoje/RJ
Texto publicado originalmente na CH 273 (agosto/2010).