A orelhinha-de-onça (Salvinia auriculata), uma samambaia aquática considerada uma espécie invasora, pode na verdade ser útil como bioindicadora e fitorremediadora (filtradora) de águas contaminadas por metais pesados.
A conclusão vem da tese de mestrado em ecologia aplicada da engenheira sanitarista e ambiental Graziele Wolff, defendida na Universidade Federal de Lavras (Ufla), em Minas Gerais. Wolff e seu orientador, Evaristo Mauro de Castro, se interessaram pela S. auriculata devido a outros artigos que já sugeriam essas novas funções para a planta.
“Além disso, temos a usina hidrelétrica do Funil, localizada no rio Grande, nos municípios de Perdões e Lavras [MG], na qual essa samambaia parece ser um problema”, conta a engenheira.
Wolff expôs a S. auriculata a diferentes concentrações de dois dos principais metais poluentes encontrados em agrotóxicos, o cádmio e o chumbo. A análise mostrou que a samambaia é capaz de retirar os dois elementos da água.
No caso do cádmio, no entanto, isso mata a planta. “Para esse metal, a S. auriculata serviria como bioindicadora, permitindo identificar sua presença no meio”, explica a engenheira.
Já para o chumbo, a espécie seria uma fitorremediadora, capaz de retirar o metal da água e continuar se desenvolvendo. “Cada quilo de matéria seca de S. auriculata é capaz de acumular até 300 mg de chumbo, em condições experimentais”, afirma Wolff.
Segundo a engenheira, as plantas que acumulam metais pesados têm que ser descartadas de maneira apropriada, senão o poluente retorna ao ambiente. “Isso pode ser feito por incineração, que não é tão viável, uma vez que pode poluir o ar, ou por lavagem com ácido, um processo mais caro, porém com maior eficiência”, esclarece.
A próxima etapa da pesquisa é testar a planta em campo, colocando-a em áreas de efluentes agroindustriais e mineradoras.
Fred Furtado
Ciência Hoje / RJ
Reportagem publicada na CH 270 (maio/2010)