Saber se as características dos raios diferem de acordo com a região em que eles ocorrem sempre foi uma dúvida para os cientistas. Para conhecer melhor esse fenômeno, o engenheiro elétrico Antonio Carlos Varela Saraiva, do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), estudou raios nos estados de São Paulo e do Arizona, nos Estados Unidos.
A conclusão foi que os raios estão mais relacionados ao tipo de tempestade do que ao local onde ocorrem.
Na pesquisa, realizada durante sua tese de doutorado, Saraiva utilizou câmeras de alta velocidade, que permitem uma melhor observação das características visuais dos raios.
“As nuvens são compostas por regiões com cargas positivas e negativas. O campo elétrico provocado por esse sistema de cargas é o responsável pela formação dos raios”, explica o pesquisador.
Em uma primeira confrontação de dados, o estudo mostrou que as características visuais dos raios sobre São Paulo e Arizona não diferiam. Já em outra comparação, Saraiva pôde observar diferenças no número de descargas em um raio e na intensidade individual das descargas.
A explicação para os resultados está na configuração de cargas elétricas dentro das nuvens que dão origem à tempestade. Foi verificado que quando as áreas negativas eram semelhantes, os raios não apresentavam diferenças significativas, da mesma forma que a situação inversa também foi observada.
Segundo Saraiva, além de ajudar a conhecer os raios — um fenômeno que até hoje carece de estudos —, o trabalho pode contribuir para o melhor planejamento de sistemas de proteção.
“Informações como o número de descargas em cada raio, o tempo entre elas e a intensidade das correntes elétricas são importantes para que se possa dimensionar da forma correta os sistemas de proteção e evitar danos, sobretudo em linhas de transmissão”, sublinha o engenheiro.
Camilla Muniz
Ciência Hoje/RJ
Texto originalmente publicado na CH 275 (outubro/2010).